Mrs. Miniver (1942)


Acabei de ver um filme que me marcou como há muito um filme não o fazia.

Mrs. Miniver conta a história de uma família inglesa na rectaguarda da II Guerra Mundial. Uma família que, ao longo do filme se vai transformando numa comunidade e, eventualmente, em todo um país.

Curioso ter visto este filme pouco tempo após ter visto Hope and Glory, outro filme que relata, embora de uma forma mais poética (não escondendo, contudo, o horror e absurdo da violência), a a família em tempo de guerra, também a II Guerra Mundial, também em Inglaterra e também realçando a importância que as mulheres tiveram na manutenção do equilibrio de uma sociedade e de um país num periodo tão perturbado.

A homenagem prestada por William Wyler ao esforço de guerra britânico é notável. O horror da guerra está presente em cada minuto em cada trecho de interpretação, em cada frase, em cada cenário.

Mrs. Miniver deu o primeiro óscar a William Wyler. A cadência com que é contada a história mostra um trabalho de casa de realização bem feito, onde a noção do tempo e o trabalho dos actores estão inteiramente ao serviço de uma história acima de tudo real. E um dos aspectos mais admiráveis deste filme, para mim, é a noção que todos os intervenientes têm do tempo e do evento que retratam: o ano de produção do filme é 1942, e filmar os bombardeamentos ocorridos durante a batalha de Inglaterra (2 anos antes) requer um distanciamento que permita uma percepção histórica dos acontecimentos nada fácil a um ano de distância, e com o conflito a decorrer. Wyler (com os interpretes e os argumentistas) tiveram o enorme mérito de terem conseguido retratar um dos maiores conflitos da história do Homem em cima do acontecimento.

A aflição de um casal ao ouvir um bombardeamento e imaginar que poderá ser o seu filho a perder a vida naquele instante, o horror estampado no rosto de Mrs. Miniver, quando tem o marido e o filho ausentes (ambos participando na evacuação histórica da Batalha de Dunquerque) são de um realismo doloroso.

Greer Garson é perfeita, é a heroína do início ao fim e tem um óscar muito bem merecido para a sua fantastica interpretação. A cena em que ela toma contacto com o piloto alemão da Luftwaffe é uma pérola do cinema, tecnica e emocionalmente. Uma lição de compaixão em tempo de guerra.

Vejo o início da história, em que a grande preocupação do casal Miniver era o modo como iriam contar um ao outro que tinham comprado algo demasiado dispendioso para as suas possibilidades, como um alerta para a relatividade dos problemas que nos acontecem na vida. Perante o horror que viria a entrar nas suas vidas, um carro ou um chapéu mais caro torna-se num segundo, no menor dos problemas.

Cada vez tenho uma certeza maior de que a década de 40 foi, definitivamente, a década do cinema, a década em que o cinema esplanou toda a sua técnica, toda a sua riqueza emocional, toda a sua arte de contar histórias, toda a sua magia. Mrs. Miniver tem tudo isso.

5 estrelas!

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