Kramer Contra Kramer


Em 1979, um filme de apenas 79 minutos vencia 5 óscares da Academia, com uma história sobre um divórcio: Kramer contra Kramer (Kramer vs. Kramer, 1979), mais do que um divórcio, mostra as consequências que uma separação tem numa família disfuncional.

O filme começa com a saída de casa de Joanna. À beira de um esgotamento nervoso, abandona marido e filho para dar início à reconstituição da sua auto-estima e sua recuperação como pessoa. Tudo isto se passa nos 5 minutos iniciais. Nada nos é mostrado sobre o passado: se alguma vez foram felizes ou como chegaram àquela situação.
A partir daqui o filme centra-se na relação entre pai e filho, Ted e Billy (de 6 anos), e somos convidados a acompanhar a aprendizagem de papéis que, até então, nunca haviam existido. Ted, que pura e simplesmente não era nem marido nem pai, num momento, teve que aprender a ser o que nunca havia sido.
Durante uma hora, este estreitar de relações vai-nos sendo mostrada, juntamente com a luta de Ted para não perder o emprego e dar uma vida digna ao filho que entretanto aprendeu verdadeiramente a amar.
Quando Joanna regressa, recuperada, é uma mulher nova. Uma sombra do farrapo que saiu de casa cerca de 1 ano antes. E pretende obter a custódia do filho.

Neste momento, somos confrontados com a brutalidade, e ao mesmo tempo, a sensibilidade, que uma tomada de posição acarreta. E esta multiplicação de dúvidas e sentimentos no espectador muito deve a 2 aspectos: ao argumento e às interpretações.
Robert Benton, realizador e argumentista, consegue a enorme proeza de, mostrando em detalhe apenas uma das partes do conflito, não nos conseguir fazer tomar partido. O pouco que nos é mostrado de Joanna é tão forte que não é possível deixar de sentir uma enorme compreensão/compaixão por aquela pessoa.
Meryl Streep é a outra grande responsável por tornar Joanna numa pessoa tão credível e a sua situação tão compreensível. Qualquer actriz mediana faria com que a decisão do espectador a favor de Ted fosse óbvia: afinal ele aprendera a desenvolver os afectos!
Meryl Streep é genial no papel de Joana: os poucos momentos em que aparece em cena quase que roubam o protagonismo a Dustin Hoffman no papel de Ted Kramer (“diz-se” que nunca mais fizeram um filme juntos por ele não ter gostado do protagonismos natural dela – na altura, ele era uma estrela de créditos firmados enquanto que ela estava em ascenção).
Apesar desta questão, Dustin Hoffman tem também um papel absolutamente genial, tal como o pequeno Justin Henry que, com apenas 6 anos seria nomeado para um óscar.
Para além de, Filme, Realização e Argumento, Dustin Hoffman e Meryl Streep venceram os primeiros óscares das suas carreiras (Actor Principal e Actriz Secundária).

Pela sensibilidade e honestidade dos sentimentos, pelo humanismo, pela seriedade com que o tema foi tratado, sem culpados nem inocentes, pelo genial argumento, pelas interpretações superiores, este é um filme de que gosto muito (foi um dos primeiros DVDs que comprei).

PS: Sem desvendar do desfecho, uma das cenas finais, entre Ted e Billy, por si só, deveria ter valido o óscar (secundário) ao miúdo.

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