O Bloco da pobreza


O Bloco de Esquerda não pode já ser considerado uma moda ou, se o é, é uma moda bem longa: cerca de 15 anos de representação parlamentar de dimensão semelhante a PCP e CDS mostra que o movimento está estabelecido no espectro político em Portugal.
Curiosamente, tal não quer dizer que o bloco contenha uma ideologia firmada e clara.
Que tal se revele nos partidos do centro é menos de estranhar uma vez que o zigue-zague ideológico, muitas vezes alinhado com os interesses económicos, europeus ou dos compadres faz com que PSD e PS, com a sua forma periclitante e bipolar de fazer política em Portugal, sejam os partidos que mais vacilam quando se fala de firmeza ou convicções. E quando são firmes são chamados de “teimosos” ou “radicais”, termos que os deixa em pânico e que tem o efeito mágico de os fazer arrepiar caminho de imediato em relação a uma qualquer medida (o actual primeiro-ministro PPC é uma excepção).

Os partidos mais “laterais”, seja à direita ou à esquerda, são mais propensos a uma carga ideológica mais firme, não apenas na radicalidade daquilo que defendem mas na intensidade com que o fazem. Têm menos a perder porque, por princípio (o que não quer dizer que na prática assim seja), tendem menos a querer agradar a uma maioria e mais a manterem-se fiéis àquilo em que acreditam sem assim defraudar quem neles se revê.

No meio de tudo isto, o Bloco de Esquerda é um caso singular: embora claramente de esquerda, o bloco é um movimento puramente reaccionário e que abomina o poder: algo completamente ilógico pela definição do que é a função de um partido. Se um movimento partidário pretende ser uma alternativa para todos (em particular para quem neles vota), não se deve colocar constantemente na utopia marginal do “contra-poder”. Representará apenas quem se assumir como um marginal da sociedade, não sendo nunca uma alternativa credível pois, por vezes, para implementar medidas um partido tem que ter poder (quer se goste ou não da palavra).
Na minha opinião (discutível), tal deve-se fundamentalmente (mas não só) a um facto: o bloco não tem ideologia. Ao contrário do PCP que, para além de uma história riquíssima (e esta vem com o tempo), tem uma ideologia muito bem definida e, embora nem sempre sejam coerentes com ela (os interesses partidários, mesmo a nível mundial estão sempre acima do indivíduo), são dos movimentos que mais se tem aguentado o que até seria de estranhar se observarmos o resultado devastador dos países por onde o regime comunista passou.

O bloco caracteriza-se por um conjunto de tomadas de posição (mais do que de propostas) contra alguma coisa: contra “o regime em vigor”, contra os “interesses instalados”, contra o “estado actual da sociedade”, etc… estados que estarão sempre mal, qualquer que seja o país e a época da História a que nos refiramos. Sem ideologia, restam-lhe algumas bandeiras avulsas: o casamento gay e o aborto esgotaram-se. Sem nada de escandalosamente vistoso por que lutarem, as “causas avulso” que os vão mantendo ligados à máquina por vezes, de tão ridículas, tornam-se risíveis, incoerentes e redundantes. Veja-se a caso da “criminalização do piropo” (http://expresso.sapo.pt/o-piropo-e-o-ridiculo-mundo-do-bloco=f828413). Daria um belo sketch dos Gato Fedorento, tal o absurdo... mas o pior é que estas senhoras estão a falar a sério… e depois querem ser levadas a sério! Só se for por gente pouco séria…

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