Oficial e Cavalheiro


O conservadorismo do Cinema da década de 80 trouxe a beleza do melodrama clássico de novo para as luzes da ribalta. Uma obra que ficou na memória do público (muito mais do que na dos críticos) foi Oficial e Cavalheiro (An Officer and a Gentleman, 1982), realizado por Taylor Hackford e que sedimentou Richard Gere como estrela de Hollywood e lançou Debra Winger numa promissora carreira (que não se viria a concretizar – Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983), no ano seguinte foi a excepção).
Se a história de amor é “demasiado clássica”, e se já vimos os ingredientes que a compõem em inúmeros filmes, o resultado final é muito superior à média do género.
Contar uma história romântica que, “banal sem cair na banalidade”, para além de necessitar de mérito também necessita de sorte, e este filme teve sorte… sorte em ter resultado tão bem.
Podia enumerar um sem número de razões, como a qualidade das interpretações (Louis Gosset Jr. ganhou o óscar para Interpretação Secundária), as localizações escolhidas, o constante tempo nebulado que marca a tonalidade triste da história, a transformação de um homem num cavalheiro, a descoberta do que é o amor para além da paixão, a música (Up Where We Belong venceu o óscar nesse ano), etc… mas nenhuma delas, isoladamente, justifica o reviver de um género que havia passado de moda após o experimentalismo dos anos 60 e o liberalismo da década de 70.
O filme resulta, ponto.
A única razão mais clara que me ocorre para justificar o sucesso deste filme tem a ver com a sinceridade das emoções nele expostas: o público identificou-se com as fraquezas de cada um dos personagens, experimentou as suas emoções e isso nem sempre se consegue reproduzir. Porque em Oficial e Cavalheiro ninguém é perfeito, e é no modo de lidar com os defeitos que os destinos dos personagens são determinados: uns ultrapassam-nos, outros desistem e outros resignam-se. Mas é esta simplicidade na exposição dos sentimentos daquele conjunto de pessoas que marcou esta história de amor neoclássica.
Se Ases Indomáveis (Top Gun, 1986) é o “blockbuster teenager”, Oficial e Cavalheiro possui a profundidade humana que lhe falta. Muitas vezes os dois filmes são comparados, talvez por ambos descreverem histórias passadas nas Forças Armadas (um na Marinha, outro na Força Aérea), por ambos terem um par romântico, por ambos incluírem a morte e o modo de lidar com a morte, por ambos terem apostado forte na banda sonora, etc… mas um é um drama enquanto o outro se centra na acção, e este aspecto faz toda a diferença.
Claro que prefiro o primeiro.

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