O Processo Criador

De onde virá o processo criador?

Por vezes questiono-me que fenómenos levam a que uma ideia ganhe forma na imaginação de um escritor de modo a que consiga traduzi-la para a linguagem universal.
Muitos escritores contaram, ao longo do tempo, o que os inspirava, ou como adquiriam essa inspiração... da evocação de um amor à alteração do estado de consciência, ou mesmo à alteração do estado de espírito (há escritores que potenciam a sua criatividade em estados depressivos, conseguindo extrair o máximo de si mesmos, onde produzem páginas e páginas de trabalho fantástico), como explicar o adornar de uma ideia?
Acredito que a obra final de qualquer artista constitui a impressão de si mesmo e, quem souber extrair os traços característicos da obra de determinado artista, vai formando dele uma ideia, por vezes mais profunda do que um conhecimento pessoal. Não quer isto dizer que a interpretação de uma obra (ou várias), permite conhecer o autor. A interpretação de uma obra de arte é algo aberto a quem esteja de coração aberto, dispoto a apreciar e interpretar aquilo que outro pensou, mas a interpretação pode distar tanto da ideia original do criador, que o que une as duas visões é apenas a obra, profundo pretexto para confrontar pontos de vista.

Certamente que Dostoievsky não sofreu o mesmo processo criador nem a sua inspiração foi trabalhada do mesmo modo do que, por exemplo Nicholas Sparks. No entanto, ambos são grandes escritores, cada um à sua maneira, quer pela forma como o primeiro percorre os labirintos das atormentadamente débeis mentes humanas, ou o segundo expões os mistérios do coração com a inteligência apenas ao alcance dos mais sensíveis.
Personagens como Raskolnikov ou Noah provocam em quem com eles toma contacto sensações tão diferentes que nos leva a aproximarmo-nos "ser humano literário" com quem mais nos identificamos. No entanto, cada um destes intérpretes diz-nos, através das suas acções, dos seus pensamentos, do meio em que se move, quem é o “seu autor”… e é este mistério, esta dualidade em que, por um lado a obra reflecte o seu criador e por outro, ganha forma na interpretação de quem com ela toma contacto, que torna a literatura (e muitas outras formas de arte) numa das mais belas manifestações do génio humano...

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