Film noir

Provavelmente, a década de 40 foi a melhor da história do cinema (o Provavelmente é, na realidade, De certeza, mas uma vez que vivemos no mundo em que os gostos não se discutem, fiquei-me pelo Provavelmente).

Foi sobretudo nesta época que no cinema americano aconteceu um dos movimentos mais mágicos e característicos... com um nome francês: o Film Noir ou Filme Negro.

O Filme Negro é o retrato de uma época, de um país, de uma forma de vida. Um movimento cinematográfico que surgiu no grande ecrã de mansinho, aproveitando os ecos de uma guerra longínqua, para ganhar uma projecção sem igual com o desenrolar do conflito, mantendo a sua força nos anos subsequentes.

O Filme Negro típico é facilmente identificável: ambientes sombrios, passados obscuros, desejos de vingança, crime, cenários nocturnos, segredos, conspirações ou detectives que são parte do mistério, ... sempre na saudosa época de ouro (saudade esta mais ilusória do que real, mas porque bão a vivi, se torna mais real do que ilusória).

Grandes filmes foram produzidos dentro do género: Rebecca de Alfred Hitchcock foi um dos primeiros, em 1940. Maravilhoso preconizador do gótico, o uso feito da herdade de Manderley e da ausência sempre presente de Rebecca, apoiados por uma história superiormente imaginada, elevam merecidamente esta obra ao estatuto de clássico.

Outros se lhe seguiram, como Relíquia Macabra que revelou John Huston, e colou para sempre Sam Spade a Humphrey Bougart, ou Suspeita, o terceiro filme americano de Hitchcock. Hitchcock terá sido, aliás, um dos mais prolíficos intérpretes do Filme Negro: Mentira!, A Casa Encantada, Difamação ou O Desconhecido do Norte-Expresso são disso exemplos.

Howard Hawks e John Huston, apoiados pela imaginação de James M. Cain e Raymond Chandler, e com Bougart como peixa na água, constituem as restantes marcas de um género: Casablanca, Ter e Não Ter, À Beira do Abismo, Paixões em Fúria ou Quando a Cidade Dorme valem por si.

Outros houve que entraram também para a galeria dos imortais: Pagos a Dobrar, o filme de Billy Wilder que Hitchcock admitiu que gostaria de ter realizado, O Enigma, Laura, O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, Gilda, Corpo e Alma, O Arrependido, O Terceiro Homem ou O Crepúsculo dos Deuses, o filme que resuscitou Glória Swanson e mostrou que o cinema consegue competir com o mais belo quadro ou o mais sublime trecho musical, como fantástica forma de Arte que é.

Uma época de ouro do cinema, que extraiu do preto-e-branco toda a sua força, toda a luz e escuridão. Dificilmente um outro movimento cinematográfico conseguirá representar tão bem o seu tempo, com uma filosofia tão simplesmente... realista.

Comentários

Cissa F disse…
Rebecca... ah, Rebecca! Gosto muito da maioria dos filmes que você comenta ou coloca como favoritos. Sunset Blvd!
beijos do Rio de Janeiro
António V. Dias disse…
Ainda bem: gosto muito de cinema (como se vê) e é bom saber que alguém lê.
Beijinhos (do Estoril)