Conversava ontem com um colega de trabalho sobre cinema... falava-me de que havia visto um "clássico" no dia anterior e que o havia marcado pois havia ficado a pensar no filme. Pela história, e pela grandeza das interpretações, algo tinha ficado retido, a sua sensibilidade havia sido tocada...
Hoje, com o fungar da madrugada a confundir-se na angústia de uma noite não terminada, recordo, não sem tristeza, a cena que me descreveu... e cujo relato me marcou, uma cena em que um instante vale por uma vida, em que o poder da decisão sobressai perante as múltiplas possibilidades que a vida nos oferece e fecha-a, num caminho, ora aberto ora isolado... mas rumo a um futuro sem passado.
Filmado com a sensibilidade com que os mestres dão o toque a uma obra de arte, fingindo uma grandiosa sobriedade, o filme conta uma simples história de amor passada numa zona rural dos Estados Unidos dos anos 60. A cena final era a indecisão, ele segue no carro, ela segue atrás, ele faz o gesto e coloca no carro o que ela lhe ofereceu... a decisão, ou indecisão que ela experimenta, um momento que vale a vida, o risco...
Os mais longínquos acontecimentos constituem motivos para revisitarmos uma obra que nos marcou. Não voltei a ver o filme, mas sinto-o tão melhor depois desta conversa, sinto-o tão mais próximo, tão autêntico. Uma honestidade de sentimentos que arrepia, que desmascara o melhor de nós na pior circunstância.
A história não termina porque perdura... nas conversas que para ela nos reencaminham, na memória das imagens que nos preenche o coração, na esperança de que o futuro das personagens tenha sido ocupado pela felicidade, esperança essa que mais não é do que a doce ilusão humana do desconhecido.
No infinito observatório das estrelas silenciosas escrevo estas palavras, com o pensamento a irromper pelo madrasto silêncio da noite e recordo a conversa que trouxe até mim a mais bonita história de amor...
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