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Pequeno-almoço num hotel: provei um queijo que era doce!
Esta constatação serviu de mote para mais uma viagem alucinante pelos meandros da minha imaginação: o empregado de hotel chega-se ao pé de mim e eu digo-lhe (em castelhano) que o queijo é doce. Ele responde-me que 1 em cada 5 milhões de pessoas sente aquele queijo como doce, e que isso era um sinal de que algo de especial iria ocorrer na minha vida. Quando lhe perguntei "O que é que de tão especial me vai acontecer", vislumbro, ao longe, o António (Governo de apelido) aproximar-se também para o pequeno almoço. Fiquei sem saber a resposta que a minha imaginação iria fabricar.
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II
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Uma conversa que classificaria como "Séria" seguida de outra que marcaria como "Descontraída". Ambas no alegre tom de quem se liberta dos grilhões do preconceito e consegue simplesmente falar com sinceridade.
Falar do que nos importa, do que nos tira o sono, do que nos ocupa o pensamento nos momentos mortos da actividade cerebral. É bom.
Falar de trivialidades, mais uns filmes, mais uns livros, mais umas viagens... também é bom.
Com o rosto moldado pelo cansaço de uma tarde solarenga na Praça de Santa Ana, preparamos a viagem de regresso. É pena.
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III
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Nunca numa partida de avião captei tantas imagens visuais...
O final de tarde perfeito em Madrid, a fria luz solar de um crepúsculo de Primavera falaciosa ilumina o oleado militar ponteado de verdes e castanhos, uma árvore aqui, uma casa ali, que ocupa os arredores da cidade. Uma névoa nebulosa filtra a luz apaziguadora e vai desfocando o mundo a meus pés.
Com os motores no máximo, sigo para ocidente a uma velocidade vertiginosa num princípio de sonho, por entre pensamentos difusos, os olhos fecham-se junto à janela e captam os últimos raios de sol de um dia que teima em não terminar... ganhamos uma hora de sol.
Lisboa... pôr-do-sol... Tejo, mar e céu numa única cor de ciano suavizado, imbuído de um ténue alaranjado vindo do infinito do oceano e banha as mais belas colinas do mundo.
O recorte da costa entra no meu pensamento e torna-se meu. Vejo-a ao longe: a serra, majestosa, recortada contra uma bruma misteriosa.
Reconheço tudo, as casas, as praças, as pontes, os miradouros... de volta à realidade, o avião faz-se à pista como me sinto, como o imagino... suave, suavemente.
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