Corrente descontínua

Confesso que vivi (parafraseando Pablo Neruda)

Vivo ainda...

Caminho pela estrada longa e sinuosa (The Long and Winding Road) que pretende conduzir de volta à Vida. Porque passar pela vida não é dificil, mas caminhar por esta estrada pressupõe coragem. Caminho com as notas de McCartney, suaves, tristes, melancólicas, recordando-me não uma vida, mas uma passagem, porque a busca pela alegria de viver faz-se de pequenos acontecimentos insignificantes do quotidiano. Habitando o ténue ponto azul (The Pale Blue Dot, nas palavras de Carl Sagan), como é possível que vidas pequenas de gente pequena num pequeno planeta de uma pequena galáxia na imensidão do Cosmos consigam ser mais fortes que a mais poderosa força da Física ainda por descobrir?

Há momentos que deveriam ser antecedidos por um pronuncio... talvez sejam... talvez não esteja atento, instantes decisivos (Sliding Doors) que definem o rumo deste intervalo de tempo instantâneo (se atendermos à escala de tempo do universo). Talvez seja apenas uma forma de entreter o pensamento este modo de olhar a sequência da vida. Não serão todos os momentos da nossa vida, todo o contínuo que nos percorre desde o segundo em que berramos até ao segundo em que nos calamos, decisivos? Todos são igualmente decisivos... apenas quando estamos atentos é que notamos o poder de cada instante e então... elegemos esse instante como... decisivo.

É esta distracção que permite que a alegria mundana tome conta de uma existência que, caso contrário, seria percorrida no Fio da Navalha (The Razor's Edge), e isso apenas está ao alcance dos génios. Mas a simplicidade da vida é tão mais bela... o sentimento... pode ser terreno, mas vale quantas vezes mais que um olhar universal? Ou talvez não...

Uma vez, há anos, questionei-me sobre a existência ou não do Bem ou Mal universais. Apesar de acreditar na relatividade de cada situação, em cada tempo e em cada espaço, há algo que só pode ser Bom ou Mau... pode evoluir com o tempo, mas num instante, pode haver Bem e Mal. Acredito que a norma é a relatividade dos valores, talvez como forma de me fazer acreditar que há pessoas boas que fazem coisas más e pessoas más que fazem coisas boas... não sei a que grupo pertenço.

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