Na noite em que se separaram, nenhum deles verteu uma única lágrima.
Conheciam-se nem eles sabiam há quanto tempo. Toda a gente sabia do grande amor que os unia. Juntos percorreram o mundo, múltiplas viagens, múltiplos locais. Experimentaram um sem número de personagens na sua nómada profissão.
No fim, acabavam sempre olhando um para o outro, com a expressão sorridente dos que têm a confiança de amarem e serem amados enquanto a existência existir.
Tantas vezes as suas caras brilhantes enfrentaram os holofotes da fama, os neóns de mil e um espaços sobrelotados, aprenderam todas as línguas do mundo, visitaram tantas casas, tantas épocas, que por vezes eles próprios deixavam de saber com exactidão a que tempo e a que lugar pertenciam.
No Natal era quando eram mais requisitados: tinham trabalho durante toda a quadra para merecerem depois um merecido descanso, trabalhando o resto do ano a um ritmo calmo.
Certo dia em que ele resolve fazer a surpresa de aparecer de descapotável, ela sobe a parada e deixa-o sem reacção quando o surpreende com o vestido de noiva. Foi um dos seus trajes mais lembrados... mães, filhas, avós e netas... foi amiga de gerações, com a silhueta irreal do século XXI (muito antes do seu tempo). Ele, muito mais reservado, era o galã. Foi a paixão de muitas raparigas mas só teve olhos para Ela.
Chegaram a participar num filme e o seu amor chegou a ser tema de uma canção.
No entanto, nunca em todas estas décadas de amor e dedicação constante, disseram uma palavra um ao outro. Porque o seu amor não carecia de ruído. O olhar com que constantemente se galanteavam mutuamente alimentava a sua relação e o imaginário de milhões e milhões por todo o mundo.
Ela é a Barbie. Ele o Ken.
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