Fiquei chocado com um vídeo que mostrava uma brutal agressão a uma rapariga de 13 anos por outras 2, uma de 15 e outra de 16 anos. Para além disso uma série de rapazes filmava e incentivava a violência que ocorria à sua frente.
O sentimento de impunidade prospera no país, mas não para todos: ele é válido para os mais fortes e para os mais fracos. Mais do que um paradoxo, é (mais) um absurdo que nos tem conduzido à ruína. O sistema de justiça deve ser alterado, toda a gente o reconhece. O que não há é acrdo quanto ao sentido dessa alteração. Uns defendem uma maior dureza leis como medidas disuasoras e outros consideram que leis mais duras apenas geram mais violência. No que ambos estão de acordo é na efectiva aplicação das leis (quaisquer que forem), o que não acontece neste momento, e em tempo útil (é pornográfico o tempo que demoram as diligências e depois os julgamentos)
Os políticos e os ricos estão protegidos, seja pelo que "representam" na sociedade portuguesa, seja por terem leis feitas à medida (impunidades, ...). Algumas minorias são altamente priviligiadas: se um polícia dá um tiro num "mimoso" que está a agredir outro, é o polícia que está tramado. No final, é a classe média que serve de exemplo. Como em tudo o resto na vida (impostos, educação, saúde), também na justiça é a classe média que prova a verdade do que está escrito. Para os outros, as leis e as medidas foram feitas para serem contornadas.
Voltando à agressão, muitos aspectos me causam (muita) impressão:
1. O sentimento geral de inimputabilidade é mais escandaloso quando falamos de "menores". É necessário muito cuidado quando se aborda este tema. Será que a criança de 15 anos não sabia o que fazia mas a de 16 sim? É que só esta é que ficou detida por imperativos legais. A outra está desaparecida.
Na vida, nós e o meio partilhamos a responsabilidade daquilo que nos acontece. A grande diferença entre a Esquerda e a Direita clássicas reside nas ponderações atribuidas a cada uma destas causas. A Esquerda enaltece a importância do meio envolvente enquanto que a Direita elege a responsabilidade do individuo pelo resultado das suas acções.
Claro que ambos influem no resultado das nossas acções, mas embora tenha algumas reservas, creio que nós somos mais responsáveis pelo que fazemos do que o meio em que nos movemos. E aquelas jovens e aqueles jovens (os que rodeavam a cena) são responsáveis pelo que fizeram. Não são os seus pais, professores... são eles!
2. Não acontece nada em Portugal: há demasiada impunidade. E o mesmo se vai passar com a maioria destes jovens. Talvez a agressora mais velha e o "operador de câmara" tenham uma ligeira pena, mas com o resto "não se passa nada". Vão ser esgrimidos mil e um argumentos, alguns lógicos mas outros não passarão de desculpas, para defender os jovens: a idade, o meio sócio-económico, famílias problemáticas, fraco aproveitamento escolar... vale tudo para desresponsabilizar um brutal agressor que é por isso mesmo, simplesmente, um criminoso.
3. Se eu fosse pai daquela miúda agredida não sei, sinceramente, o que faria. Não consigo imaginar: nunca fui pai. Mesmo que o fosse, não conseguiria reproduzir (felizmente) a sensação de ver uma filha minha agredida daquela maneira. Mas tenho irmãs. E quando a justiça de um país, mais do que não funcionar, goza connosco ao passar a mão pelo pêlo destes criminosos, começamos a ponderar fazer justiça pelas próprias mãos. A este respeito, deixo aqui as plavras do meu pai quando viu as imagens: "Eu digo-te uma coisa: se eu fosse pai desta miúda não sei mesmo o que faria. Eu podia destruir a minha vida, mas estas tipas não voltavam a repetir a graça.".
4. A assustadora falta de noção da realidade de quem filmou a cena (aparentemente eram mais velhos) mostra esta preconização que muitos políticos e homens das leis têm feito da relatividade dos valores. Já nada é absoluto e, quando se vem com esta conversa para crianças (antes de terem 15 ou 18 anos, estes jovens foram crianças), mais perdem a noção de onde está a fronteira entre o Bem e o Mal. Esta é uma das causas em que o meio toma parte na responsabilidade das acções que praticamos. É verdade de que, na sociedade actual, muitas coisas são relativas, mas não tudo. Estes jovens que rodearam a cena, embora não na mesma medida, são também muito culpados pelo que aconteceu.
5. Não sei se o país está à beira de uma revolução ou não (somos uns "frouxos"), mas, como dizia Medina Carreira esta semana, as pessoas estão saturadas e só por não haver uma força militarizada forte em Portugal e por estarmos "engolidos" pela UE é que não tomámos já essa iniciativa. De qualquer forma, creio que uma verdadeira revolução começa a ser uma hipótese a não subestimar. Afinal, a crise está em todos os sectores da sociedade (Educação, Justiça, Economia, Trabalho, Saúde, ...)
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