Talvez quando o aborto for obrigatório...

Guiava para casa num final de tarde, quando oiço no rádio parte dos 5 minutos do programa (não me lembro do nome) com a Isabel Stilwell e o Eduardo Sá.
O tema do programa:

“ (…) objectos alusivos à infância, como cartazes ou brinquedos, ou do foro religioso que possam interferir com a livre escolha da mulher em interromper a gravidez devem ser retirados dos gabinetes médicos e de apoio psicológico e social onde é prestado atendimento a estas utentes. A recomendação aos hospitais públicos é feita pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (…)”

Valerá a pena algum comentário?
Isabel Stilwell (alinhada com Eduardo Sá) considerou esta recomendação ridícula (a palavra é minha). Segundo ela, se uma mulher que vai fazer um aborto é susceptível de mudar de ideias à última hora por causa de um brinquedo ou um símbolo religioso, então tem muitas coisas mal resolvidas.”


Subscrevo.


Corremos o risco de extremar a nossa posição “à francesa”, confundindo laicidade com ateísmo, onde a simples manifestação de uma crença ou a visualização de um brinquedo pode cometer o “terrível crime” de incutir uma dúvida fundamental e, no limite, impedir um aborto. Mas tudo na vida pode despoletar um arrependimento: ninguém conhece a fundo a vida das pessoas que pretendem fazer um aborto. Uma flor, uma criança, uma escola, ... tudo isto pode fazer vacilar. E não é por isso que se vão retirar as escolas de perto dos centros de saúde ou impedir as crianças de lá entrar.

Sem rodeios, esta recomendação não disfarça o apelo ao aborto nela contida. Não se trata de uma questão de respeito pela mulher que decide interromper a gravidez (que, pelo que está a passar, merece todo o apoio). Trata-se de apelo ao aborto. Puro.
Se assim não fosse, qualquer cartaz com referência aos locais onde as pessoas se podem informar para interromper a gravidez também deveria estar incluído nesta recomendação pois “pode levar uma mulher que não queira abortar a mudar de ideias”

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