Há algum tempo que a expectativa que tinha em relação a este ano cinematográfico se tem vindo a confirmar. A realidade, parca, até agora, mas segura, tem mostrado que 2011 já é (e tudo indica que, com o que aí vem, se adivinha um dos melhores anos das últimas 2 décadas).
Para além de A Árvore da Vida (The Tree of Life), soberbo, e As Serviçais (The Help!), bom (Meia-Noite em Paris terá que ficar de fora – é medíocre: começa a ser confrangedor como Woody Allen, repetidamente cai na banalidade), vi ontem um filme que, de expectativa se transformou em certeza, o que tem tanto mais valor quanto a esperança que eu tinha à partida era já enorme.
Jodaie Nader Az Simin (A Separation, em inglês – não sei ainda o título em Portugal). Este filme venceu 5 prémios no Festival de Berlim, incluindo o Urso de Ouro (melhor filme) e os Ursos de Prata nas categorias de interpretação masculina e feminina (cada um deles entregue não a um mas aos dois conjuntos de intérpretes, masculinos e femininos, do filme).
É um filme iraniano, um retrato de uma sociedade que, a avaliar pelo que nesta história é espelhado, contém demasiadas assimetrias para que eu, no final, possa emitir um juízo demasiado taxativo sobre o nível evolutivo desta sociedade. Se a história mostra algumas lacunas culturais/religiosas no que concerne à relação entre tradição e respeito pelos direitos humanos, o lado humano, tanto das personagens como de quem fez o filme mostra que o Irão tem gente muitíssimo capaz: se isto é representativo de uma parte significativa do país, então há esperança.
O filme conta muito mais do que a história de um divórcio: conta como se comportam os seres humanos quando confrontadas com situações limite. Conta como todos somos vulneráveis. Conta como por vezes nos tentamos aproveitar dos sortilégios da vida em proveito próprio. Conta como pode valer tudo para nos desenvencilharmos de uma situação difícil. Conta como o lado humano que todos temos pode entrar em conflito com outrem, sem haver um bom e um mau. Conta como a relação com a Verdade pode não ser linear. Conta como uma adolescente aprende a lidar com esse conflito entre Verdade e Justiça. Conta como uma criança emite, inocentemente, a Verdade amoral que a sociedade ainda não corrompeu. Conta como a Religião pode ser boa e má. A nível humano, é um filme muito completo. Um filme que valerá a pena rever mais tarde para apreciar a multiplicidade de emoções aqui expostas, a riqueza cultural de um infortúnio no meio de um drama familiar.
Até o final do filme foi pensado com uma enorme inteligência, não deixando o acessório tomar conta do que de principal se passou ao longo dos cerca de 115 minutos de filme. No entanto, a expectativa com que ficamos faz-nos “viver” os créditos finais até ao fim. Porque, se o problema relatado no final do filme parece acessório para a história, é no fundo essencial, quer durante os acontecimentos, quer no que representa como consequência dos mesmos.
Este filme já deu nas vistas, e de que maneira.
Se não for nomeado, pelo menos para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, então, ou a Academia anda a dormir ou a política falou mais alto. Mas mesmo que seja esquecido nos Óscares, já deixou a sua marca, com mais de 20 prémios em diversos festivais em todo o mundo.
É por causa de obras de arte tão ricas como esta que o Cinema vale também a pena.
PS: Como o iraniano não é propriamente o meu forte, tive também que sacar as legendas para o filme, só que só as encontrei em inglês. De certeza que foram feitas por algum iraniano analfabeto, e ainda por cima, surdo! Para além disto, ou estava podre de bêbedo ou estava com uma moca de sono daquelas… Desde a configuração (pelo menos 20% das palavras vinham encriptadas/desconfiguradas… resumindo: vinham todas lixadas) até à troca de géneros (os homens eram she e as mulheres he, mas no meio acertavam para baralhar) ou de pronomes (Where era When e What era How – What are you? – é caso para dizer: What the fuck?). Se o cabrão que fez esta merda tinha em mente a não percepção do filme, no que a mim diz respeito, falhou.
Mesmo com este desafio adicional, vale muito a pena ver esta pérola.
Para além de A Árvore da Vida (The Tree of Life), soberbo, e As Serviçais (The Help!), bom (Meia-Noite em Paris terá que ficar de fora – é medíocre: começa a ser confrangedor como Woody Allen, repetidamente cai na banalidade), vi ontem um filme que, de expectativa se transformou em certeza, o que tem tanto mais valor quanto a esperança que eu tinha à partida era já enorme.
Jodaie Nader Az Simin (A Separation, em inglês – não sei ainda o título em Portugal). Este filme venceu 5 prémios no Festival de Berlim, incluindo o Urso de Ouro (melhor filme) e os Ursos de Prata nas categorias de interpretação masculina e feminina (cada um deles entregue não a um mas aos dois conjuntos de intérpretes, masculinos e femininos, do filme).
É um filme iraniano, um retrato de uma sociedade que, a avaliar pelo que nesta história é espelhado, contém demasiadas assimetrias para que eu, no final, possa emitir um juízo demasiado taxativo sobre o nível evolutivo desta sociedade. Se a história mostra algumas lacunas culturais/religiosas no que concerne à relação entre tradição e respeito pelos direitos humanos, o lado humano, tanto das personagens como de quem fez o filme mostra que o Irão tem gente muitíssimo capaz: se isto é representativo de uma parte significativa do país, então há esperança.
O filme conta muito mais do que a história de um divórcio: conta como se comportam os seres humanos quando confrontadas com situações limite. Conta como todos somos vulneráveis. Conta como por vezes nos tentamos aproveitar dos sortilégios da vida em proveito próprio. Conta como pode valer tudo para nos desenvencilharmos de uma situação difícil. Conta como o lado humano que todos temos pode entrar em conflito com outrem, sem haver um bom e um mau. Conta como a relação com a Verdade pode não ser linear. Conta como uma adolescente aprende a lidar com esse conflito entre Verdade e Justiça. Conta como uma criança emite, inocentemente, a Verdade amoral que a sociedade ainda não corrompeu. Conta como a Religião pode ser boa e má. A nível humano, é um filme muito completo. Um filme que valerá a pena rever mais tarde para apreciar a multiplicidade de emoções aqui expostas, a riqueza cultural de um infortúnio no meio de um drama familiar.
Até o final do filme foi pensado com uma enorme inteligência, não deixando o acessório tomar conta do que de principal se passou ao longo dos cerca de 115 minutos de filme. No entanto, a expectativa com que ficamos faz-nos “viver” os créditos finais até ao fim. Porque, se o problema relatado no final do filme parece acessório para a história, é no fundo essencial, quer durante os acontecimentos, quer no que representa como consequência dos mesmos.
Este filme já deu nas vistas, e de que maneira.
Se não for nomeado, pelo menos para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, então, ou a Academia anda a dormir ou a política falou mais alto. Mas mesmo que seja esquecido nos Óscares, já deixou a sua marca, com mais de 20 prémios em diversos festivais em todo o mundo.
É por causa de obras de arte tão ricas como esta que o Cinema vale também a pena.
PS: Como o iraniano não é propriamente o meu forte, tive também que sacar as legendas para o filme, só que só as encontrei em inglês. De certeza que foram feitas por algum iraniano analfabeto, e ainda por cima, surdo! Para além disto, ou estava podre de bêbedo ou estava com uma moca de sono daquelas… Desde a configuração (pelo menos 20% das palavras vinham encriptadas/desconfiguradas… resumindo: vinham todas lixadas) até à troca de géneros (os homens eram she e as mulheres he, mas no meio acertavam para baralhar) ou de pronomes (Where era When e What era How – What are you? – é caso para dizer: What the fuck?). Se o cabrão que fez esta merda tinha em mente a não percepção do filme, no que a mim diz respeito, falhou.
Mesmo com este desafio adicional, vale muito a pena ver esta pérola.
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