A Casa do Lago

Um dos clássicos modernos que há muito andava para ver vi-o este sábado.
Apanhei-o por sorte no início, há uma ou duas semanas à noite, na RTP Memória e coloquei logo a gravação em marcha (nos canais da RTP, como na generalidade dos canais generalistas portugueses, não se pode confiar nos horários da programação para programar gravações).
Sábado de manhã, apeteceu-me ver e não me desiludiu.
Há uns anos (não me lembro quantos), vi A Casa do Lago no Politeama, com Ruy de Carvalho e Eunice Muñoz. Gostei muito da história, das interpretações, mas o Teatro não é a arte de que mais gosto.
Já conhecia o filme e a peça apenas reforçou o desejo de o ver.
A Casa do Lago (On Golden Pond, 1981) é um filme belíssimo. A entrada na década de 80 marcou um regresso da América ao conservadorismo e o cinema não foi excepção: os dramas familiares foram a expressão mais vincada dessa fase e produziu das obras mais bonitas no que respeita à força da história ou ao relevo dado ao lado humano dos personagens. Filmes como Kramer contra Kramer (Kramer vs. Kramer, 1979), Gente Comum (Ordinary People, 1980) ou Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983) marcaram o tom para a década que começava.
A Casa do Lago foi adaptada por Ernest Thompson, beseada na sua própria peça, e conta a história de uma temporada passada por um casal numa casa à beira de um lago, onde ajustam contas com um passado familiar mal resolvido e reajustam as expectativas para a (pouca) vida que têm pela frente.
Henry Fonda viria a ganhar, finalmente, o óscar da sua carreira (óscares honorários não contam), enquanto a grande Katharine Hepburn se isolaria na liderança ao vencer a 4ª estatueta (record que ainda hoje detém).
A Casa do Lago é uma história muito humana, é um recital de grandes interpretações, quase que uma lição do que é ser-se humano, com todos os defeitos e qualidades que aquilo que somos comporta. Foi também neste filme que, com a ajuda de Katharine Hepburn, Henry Fonda se reconciliou com a filha, Jane Fonda, representando ambos na história uma alegoria da condição que ambos viveram na realidade atribulada que os juntou.
Henry Fonda viria a falecer pouco tempo depois da cerimónia dos óscares que o consagrou definitivamente, em Agosto de 1982 (não foi ele mas a filha Jane quem recebeu o óscar em seu nome). Em Katharine Hepburn, eram já visíveis os primeiros sinais da doença de Parkinson que a viria a afligir pela longa vida que ainda viria a viver (faleceu em 2003). Mas esta marca do tempo é o que torna estes dois personagens, nesta história, com estes actores, tão real.

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