Distância

Ouvi hoje na rádio, numa rubrica chamada “Portugueses pelo Mundo”, uma portuguesa que vive em São Paulo dizer que vai voltar para Portugal para estar junto daqueles de quem gosta.
Há (poucos) dias havia comentado (com amigos e, depois, em família) que, para mim, não fazia sentido emigrar para um local que estivesse a uma distância tal da minha família e (da maioria) dos meus amigos que me permitisse vê-los apenas uma ou duas vezes por ano.
O ponto do meu argumento é o de que, se o que temos como certo é esta vida, e passamos cá 70 ou 80 anos, não faz sentido (para mim, obviamente), passar 15, 20, 30, … anos a ver “aqueles que nos são mais queridos” duas vezes por ano.
Nada disto tem a ver com legitimidade nem estou a dizer que não concordo com quem o faz. Nem sequer estou a dizer que eu próprio não o virei a fazer. Digo simplesmente que, em absoluto, não me faz sentido. Se alguém tem espírito para partir para algo do género, deve fazê-lo: devemos fazer aquilo que mais nos aproxima do que sentimos ser a nossa natureza.
Depois, há as condições, ou a falta delas, que muitas vezes levam as pessoas a partir para longe e tal pode ser, muitas vezes dramático: afastarmo-nos de quem gostamos por não termos condições para estarmos perto… e por vezes os locais (países) mais perto nem sempre nos oferecem condições que façam valer a pena tamanha mudança: já que é para mudar, pelo menos que seja para ganhar bom dinheiro, pensarão alguns com alguma razão.
Mais facilmente aceitaria efectuar tal mudança na minha vida se a perspectiva fosse temporária, mas é tal a frequência com que este “temporário” se transforma em “definitivo”, pelas mais diversas circunstâncias, que tal perspectiva apenas servirá para aplacar a saudade nos primeiros momentos.
De qualquer modo, quando a convicção de que o deslocamento é provisório é uma realidade, existe o objectivo de regressar, e esse poderá ser, em si mesmo, algo que aproxima quem está fora de quem está (cá) dentro.
Passar uma vida a ver a família e amigos (não os de circunstância) tão poucas vezes é algo que não me faz sentido. O facto de partir em busca de melhores condições ou de empreender tal projecto em que o objectivo de ser a prazo estaria definido à partida não lhe confere sentido. Mas seriam essas as condições que me fariam mudar para longe. Mesmo não me fazendo sentido quando penso no que é realmente importante na vida, o mundo é como é, e olhando para a realidade com objectividade, se as boas condições de vida estão do outro lado do mundo, não poderei jurar que nunca irei em busca delas, o que quer que sejam essas “boas condições de vida” (num caso extremo, não vou morrer à fome para ficar juntos dos que mais gosto).
Nada disto é válido para a Europa, onde qualquer cidade está, no máximo a 4 horas de distância, onde tudo à volta nos parece familiar, onde podemos vir a casa todos os meses (se não mesmo todas as semanas).
A Europa permitiria obter o melhor dos dois mundos: estar perto e com melhores condições.
Mas mesmo as condições, teriam que ser extremamente más no meu país para me fazer sair: alguém tem que ficar numa altura em que muitos viram as costas.

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