The Good of Carnage

O Deus da Carnificina (Carnage, 2011) é (mais) um grande filme de Roman Polanski.
Com uma carreira com alguns altos e baixos, Polanski tornou-se mais regular na última década. A filmes de culto como Repulsa (Repulsion, 1965), A Semente do Diabo (Rosemary’s Baby, 1968) ou Chinatown (Chinatown, 1974), seguiu-se um período atribulado (tanto pessoal como profissionalmente) que estabilizou com O Pianista (The Pianist, 2002). O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, 2010) e este O Deus da Carnificina (Carnage, 2011), são como que filmes de consagração.
Carnage, embora não seja uma obra prima, é um filme intenso e divertido ao mesmo tempo. Baseado numa peça de teatro (The Good of Carnage), conta uma reunião entre dois casais depois dos filhos de ambos se terem envolvido numa briga. A tentativa politicamente correcta de resolver o assunto “a bem” depressa resvala para um conflito em que vale tudo, em que a tensão crescente não é mais do que a expressão mais pura da honestidade presente em cada um dos quatro elementos, e nesta “luta” em que a autenticidade toma conta da hipocrisia que o imperativo social fomenta, a natureza de cada um dos seres envolvidos vai sendo revelada.
Filme muito curto (apenas 79 minutos), é um óptimo ensaio sobre o comportamento humano (o contraste de todo o filme com a última cena é brilhante), e apenas possível com grandes intérpretes. Facilmente o filme entraria no registo entediante de muitas “peças” não fosse a vida que Kate Winslet (genial), Jodie Foster (muito boa), Christoph Waltz (garantidamente, um excelente actor) e John C. Reilly (perfeito para o papel) imprimem ao filme.
Polanski está igual a si próprio e, embora não seja o melhor filme que vi dele, facilmente eu ficaria mais 30 ou 60 minutos na sala de cinema a desfrutar de interpretações magníficas e dos diálogos tão caracterizadores de alguns aspectos da nossa sociedade.
Embora não seja uma comédia, ri-me como há muito não me ria no cinema (é normal quando não se vai ao cinema ver comédias), mas a alternância com momentos de puro drama é bem feita, tornando este filme em algo que, se à partida poderia ambicionar “somente” ser um filme respeitável, depressa se torna também numa obra muito entertaining.

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