Jogos de Guerra (ou Jogos de Paz)

Datado de 1983, Jogos de Guerra (Wargames) foi um dos poucos sucessos de John Badham. Realizador catapultado para a primeira linha das luzes da ribalta em 1977 com A Febre de Sábado à Noite (Saturday Night Fever), Badham foi alternando de estilo, enveredando para o thriller (género onde se pode inserir Jogos de Guerra, bem como o outro filme dele que vi: Minutos Contados (Nick of Time, 1995), um filme de suspense que tinha a particularidade de ter sido filmado em tempo real) no seguimento da sua carreira.
Se Jogos de Guerra pretende ser um daqueles filmes moralistas bem intencionados, devo dizer que ultrapassa essa intenção. O filme é um thriller que alerta para o perigo de uma guerra nuclear global. Filmado no auge da Guerra-fria, a paranóia USA-URSS levava a devaneios que, nuns casos mais do que noutros, não estiveram muito longe de acontecer.

Kubrick havia filmado uma paródia sobre o assunto em Dr. Estranho-Amor ou Como Deixei de Me Preocupar e Passei a Amar a Bomba (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worriyng and Love the Bomb, 1964). O filme seguinte de Kubrick, 2001 – Odisseia no Espaço (2001, A Space Odissey, 1968) lançava para a actualidade, entre (muitas) outras questões pertinentes, a “luta” do Homem com a Máquina, materializada na figura de HAL-9000, o computador inteligente e aparentemente infalível que conduzia a Discovery rumo a Júpiter.
A curiosidade é que Jogos de Guerra retoma estes temas desenvolvidos por Kubrick mais de 15 anos antes.

Matthew Broderick (antes de entrar em parvoíces como Inspector Gadget (Inspector Gadget, 1999) ou Os Produtores (The Producers, 2005), teve uma estreia em grande e é ele, juntamente com Ally Sheedy, um argumento bem conseguido e a realização segura de Badham que conduziram o filme a bom porto.
Broderick é um hacker, numa altura em que o termo devia estar nos seus primórdios (pelo menos com o significado a que o associamos hoje) que entra no computador de defesa dos EUA quando procurava jogos de computador através do nome do seu criador. Ao começar a jogar, despoleta no computador um conjunto de acções que levam a que os procedimentos para uma guerra nuclear sejam iniciados. O computador, que não distingue o jogo da realidade, continua a “jogar com a realidade” e, numa corrida contra o tempo (uma marca do cinema de Badham), David (Broderick), Jennifer (Sheedy) e Falken (John Wood, no papel do criador do “jogo”) têm que “convencer” o computador, o qual havia sido programado para aprender com os próprios erros, da inutilidade da guerra… e esse processo, embora alegórico, é de uma simplicidade fantástica.

Assim, embora de um modo muito mais simplório (quase aventureiro), Dr. Estranho-Amor e 2001 são aqui revisitados no modo como um conflito mundial pode estar dependente de algumas mentes perturbadas e de como o destino da raça humana pode ser entregue a máquinas supostamente inteligentes e que atingem patamares de autonomia para níveis cada vez mais inacessíveis ao seu criador.

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