The Queen

Só agora vi o filme A Rainha (The Queen, 2006).
Há muito que andava para o ver, mas, ou por falta de disposição ou por falta de tempo, a visualização foi sendo adiada. Tinha também a ideia de que seria um daqueles filmes muito british, ao estilo Merchant/Ivory, mas enganei-me.
A leveza da história resulta bastante bem e deve-se a vários factores.
Desde logo, o argumento: não sei o que é real e o que é ficcionado, mas o filme não perde nem por um minuto o interesse ao longo de hora e meia de duração. O facto de retratar acontecimentos que testemunhei na altura (a semana que se segue à morte da Princesa Diana em 1997) ajuda a tornar o enredo mais interessante, sobretudo por nos apresentar aquilo que não vimos: os bastidores da política e da casa real britânica na reacção ao sucedido.
Depois, as interpretações, com destaque para Helen Mirren (vencedora do Óscar) que mostra uma rainha que, embora tenha sido “forçada” a dar mostras de uma humildade que não é a sua, nunca se adaptou aos tempos, escudando-se atrás de um protocolo secular, alimentado pela crença de que o país é como ela acha que ele é (a acreditar no guião).
Por ultimo, a realização de Stephen Frears, valor seguro do cinema britânico e que tem aqui (mais) um grande trabalho. Embora o filme não seja fora-de-série, a realização torna muito agradável o acompanhamento da história. As escolhas dos planos, por um lado, mostram as expressões mais marcantes de momentos-chave da história (como quando a Rainha sugere ao Duque de Edimburgo que sabe das amantes na sua vida, ou as expressões de Tony Blair, numa verdadeira aprendizagem do que é fazer política) e por outro, marcam o ritmo perfeito para uma história triste, mas que não é dramatizada e nisto, há o mérito de Frears em não prolongar em demasia as imagens reais em torno do Palácio de Buckingham, que todos conhecemos ou o cortejo fúnebre.
Não sei, nem creio que vá perder muito tempo a investigar, se a relação entre Tony Blair e a Rainha Isabel II naquela semana teve mesmo aqueles episódios. Nesta história, a guerra de poderes, a rigidez do protocolo, a hipocrisia de agir de acordo com o que parece bem (personificada no Príncipe Carlos), a sobriedade briâtnica agrilhoada à tradição (reflectida no comportamento da Rainha e do Duque de Edimburgo) em contraste com o mais profundo sentimento de tristeza de um país e a influência de um recém primeiro-ministro que marcou pontos no coração dos ingleses, sem querer, e devido a um dos acontecimentos mais marcantes da história recente britânica, são alguns dos aspectos retratados neste filme, que é muito mais uma crítica de costumes do que uma dramatização de um acontecimento já de si, dramático.

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