Felizmente, já não têm tanta lata...

Critiquei há tempos a atitude prepotente do Ministério da Saúde a respeito dos laboratórios de medicamentos.
Hoje aplaudo o entendimento alcançado entre o Ministério da Saúde e a Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica).
O Ministério pretendia uma redução de 300 milhões de euros na factura dos medicamentos hospitalares. A indústria farmacêutica não passava dos 250 milhões…

O que poderia ter iniciado um braço de ferro foi resolvido através de negociação, ou cedências, mas uma negociação é isso mesmo: para ter um benefício maior aqui, terei que ceder mais ali.
Sem me querer alongar muito em juízos de valor, até porque muitas vezes estas notícias são “gato escondido com rabo de fora” e mais tarde pode vir a saber-se que afinal as coisas não são tão boas como parecem, do que li, não me parece mal:

- O Estado reduz a despesa em 300 milhões (mais do que uma migalha, mas, como o ministro diz, não é isto que resolve o problema da sustentabilidade do SNS);
- O Estado vai pagar 60% (fonte do Ministério da Saúde - o Jornal de Negócios fala em 44%) das dívidas em atraso às indústrias farmacêuticas até ao final deste ano (contrapartida 1 – que não deveria ser mais do que uma obrigação);
- O Estado facilita a entrada de medicamentos inovadores no mercado, mais eficazes mas geralmente muito mais caros (contrapartida 2);
- O Estado deixou cair o corte administrativo do preço dos medicamentos em 12%, como chegou a estar previsto (contrapartida 3);

Embora não seja comparável com um sacrifício feito por um particular (corte de subsídio, corte de salário, aumento de impostos, etc…), o qual não vê quaisquer contrapartidas no horizonte, o argumento do Ministro de que, se as pessoas fazem sacrifícios, ao verem rasgados contratos assinados (quebra de ordenados, por exemplo), também as empresas devem contribuir para o esforço. Alegar constantemente o facto de existirem contratos assinados, embora seja “legal”, nesta situação extraordinária que o país vive, há que tentar distribuir o esforço por todos.
Claro que isso é uma utopia: os particulares estão muito mais desprotegidos do que as empresas, contudo, alguma coisa é possível alcançar e este acordo é disso prova (espero eu… se se vier a descobrir que esta resolução tem “rabos de palha”, corrigirei este comentário).

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