Vê lá se ganhas juízo

Estava em dúvida se havia de perder o meu tempo a opinar sobre a senilidade de Mário Soares… afinal, para escrever estas linhas é necessário algum tempo: para pensar no assunto, organizar ideias e compor o texto.
E tento gastar, ou melhor, preencher o tempo com o que vale a pena.
Ainda assim, vale a pena perder uns minutos a pensar na alarvidade que o “Sr. das Seychelles” vomitou no início desta semana num artigo de opinião.
Periodicamente, Mário Soares resolve chocar. Não sei se é um sinal da idade ou não, mas até acho, na generalidade do que escreve, que tem mantido uma lucidez admirável para uma pessoa da sua idade (sem ironia). Nas poucas análises que tenho lido, e embora discorde da maioria, tem sido claro, objectivo e ponderado. Contudo, esta semana passou-se. E não foi a primeira vez.
Pelo facto de as eleições em FRANÇA terem dado a vitória ao candidato socialista o PS em PORTUGAL deve desvincular-se do acordo que assinou com a troika?! Mas este gajo é estúpido ou come merda?
Alguém devia explicar umas coisinhas ao Sr. Soares, a saber:
- Uma coisa é França e outra é Portugal (vale tanto como eu dizer que se o Real Madrid foi campeão em Espanha o Benfica devia deixar de pagar impostos – se eu efectivamente dissesse isto num artigo de jornal chamavam-me maluco, como foi o Dr. Soares, é um iluminado que pôs toda a Esquerda nacional com orgasmos múltiplos);
- As pessoas são importantes, mas sem dinheiro, simplesmente, não há acção social (é muito bonito diabolizar o dinheiro e os mercados, mas são necessários para se elevarem as pessoas, como ele tanto gosta de dizer);
- Como disse, num louvável acesso de coragem, José Gomes Ferreira, estas declarações são, entre outras coisas, infantis (…) a austeridade não é a causa para a actual situação do país e da Europa: é uma consequência;
- As mordomias de que, enquanto PR, Mário Soares usufruiu (viagem às Seychelles incluída) e que continua a usufruir por ser ex-presidente (80% do ordenado do actual PR, escritório, carro com motorista, secretária, despesas de representação, …), mostram que a sua coerência cai pela base quando muito “altruisticamente” passa a vida a dizer que é preciso pôr as pessoas à frente do dinheiro.

Mário Soares teve o enorme mérito de ter mantido a lucidez durante a loucura que varreu Portugal em 75 e 76. Foi ele (com outros) que nos livrou de nos tornarmos um estado comunista, com o que o comunismo de então representava, quer ideologicamente quer nas restrições que sempre foi impondo nos países onde foi poder.
Mário Soares teve o mérito de ter governado Portugal em períodos de ajuda externa e de ter aberto as portas, como Primeiro-ministro, à entrada na EU.
Tinha por isso obrigação de não dizer disparates. Claro que a idade não perdoa e admito que, com menos 10 ou 20 anos, Soares não escrevesse o que escreveu.
Felizmente o PS (português) se apressou a desvincular destas declarações.

Estes “senadores da nação” deviam saber estar à altura do país que representaram, quer para dignificar o que fizeram de bem pelo País, quer para continuarem a prestar um serviço positivo nos tempos actuais. E a discrição muitas vezes é uma boa opção (veja-se o comportamento muito mais “adulto” de Ramalho Eanes ao longo dos anos).

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