A Amante do Tenente Francês



A Amante do Tenente Francês (The French Lieutenant’s Woman, 1981) é um daqueles filmes que, sendo respeitável e “bem intencionado” no período em que está em cartaz, não é levado demasiado a sério até que, com o tempo, vai melhorando e é hoje o exemplo de uma forma de fazer cinema que, não tendo vingado, deixou na sua passagem algumas obras-primas como é, na minha opinião, esta obra.
O enredo do filme dentro do filme funde-se com a realidade, os percursos e destinos de personagens e actores fundem-se, confundem-se, baralham-se e, mesmo com acções paralelas a percorrerem a história em períodos diferentes (a película onde se movem Charles e Sarah ocorre no séc. XIX enquanto que Mike e Anna são personalidades da actualidade).
O termo “clássico moderno” assenta na perfeição a esta obra, com todas as incoerências que as palavras “clássico” e “moderno” imprimem uma à outra.
Meryl Streep, em 1981 era já uma certeza: com A Amante do Tenente Francês garante o lugar entre as estrelas maiores do Cinema (foi a sua primeira nomeação para um Óscar numa categoria principal). Jeremy Irons, filmava, em simultâneo uma série britânica (fantástica) que viria a ser uma obra de culto: Reviver o Passado em Brideshead (Brideshead Revisited, 1981) e, este Charles é, em certa medida, um prolongamento de parte da personalidade do outro Charles (Ryder), o seu personagem na série. A qualidade destas duas obras prometia uma carreira muito mais auspiciosa do que aquele que Irons veio a ter, embora não deixe de ser um dos grandes actores dos últimos 30 anos.
A melancolia, o passado misterioso, uma filmagem belíssima que faz deste filme ora um filme de época ora uma história actual, interpretações brilhantes, os meandros da mente humana, a confusão entre o amor e a obsessão, as relações humanas, o argumento de Harold Pinter (que viria a receber o Nobel da Literatura 24 anos depois, … poderia continuar a enumerar os ingredientes deste filme… são tantos e todos eles tão importantes que é também o todo e o modo como este todo é encaixado que tornaram A Amante do Tenente Francês um “clássico moderno”.

PS: Se o livro no qual foi baseado este filme colocava três finais alternativos à escolha do leitor, o modo como Harold Pinter conseguiu encaixar dois desses finais no filme, não sendo alternativos mas ocorrendo em simultâneo, um triste e outro feliz, denota, para além de um superior poder de imaginação, uma qualidade notável.

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