Longe do Paraíso



Anos 50. Hartford, Connecticut. O Outono alterna com o Inverno, mostrando a tristeza bela que se esconde por trás de beleza falsa da típica american way of life.
Numa vivenda perfeita, com uma comunidade perfeita uma família perfeita entra no jogo da vida quando a verdade resolve entrar em cena. Mas, se tudo o que se passa é duro, muito duro, se a confrontação com o reconhecimento do que se sente é doloroso, a suavidade com que a paisagem e a filmagem contrabalançam o aperto das emoções dá um toque de beleza sublime a este filme.

Longe do Paraíso (Far From Heaven, 2002) é um filme que retrata com mestria não apenas a complexidade e riqueza das relações humanas mas pinta também o retrato de uma época.
Sem querer revelar o enredo, porque é aí que reside a sua beleza, refiro apenas que a riqueza desta história é sustentada em dois preconceitos da humanidade: o racial e o sexual.
Julianne Moore, Dennis Quaid, Dennis Haysbert e Viola Davis encabeçam um elenco notável, estando à altura de uma história que merecia tal qualidade.
Em certa medida, este filme fez-me lembrar um outro que vi há anos: Contra Tudo (Love Field, 1992), também com Dennis Haysbert e Michelle Pfeiffer, um road movie onde uma dona de casa de Dallas, fã de Jacqueline Kennedy, na companhia de um negro e da filha deste, partem para Washington para assistir ao funeral do presidente Kennedy.

Longe do Paraíso possui outros ingredientes (para além do argumento e das interpretações) que ajudam a “dar corpo” a uma história riquíssima: a filmagem de Todd Haynes marca o tempo de forma quase perfeita tal como consegue captar os ângulos ideais do que pretende mostrar; a fotografia é genial e a banda sonora, uma das últimas de um dos derradeiros sobreviventes dos clássicos do género em Hollywood, Elmer Bernstein, é tão segura quanto consegue estar perfeitamente articulada com o todo que compõe o filme.
Uma história muito humana e muito bem conseguida.

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