George Clooney tem-me surpreendido em alguns filmes em que tem aparecido (sobretudo os mais recentes). Para além de Irmão, Onde Estás? (O Brother, Where Art Tou?, 2000), Destruir Depois de Ler (Burn After Reading, 2008) e Os Descendentes (The Descedants, 2011), vi recentemente Michael Clayton – Uma Questão de Consciência (Michael Clayton, 2007), cuja participação de Clooney me voltou a surpreender positivamente, assim como todo o filme.
Se a sinopse do filme é algo já visto e revisto em Hollywood, há alguns aspectos que fazem este filme sobressair no género.
Uma grande empresa de advogados negoceia a fusão com outra, mas a descoberta, por parte de um dos seus funcionários de algo que a empresa ocultou relativamente a um caso que se arrasta em tribunal há 6 anos pode comprometer o negócio. É este o ponto de partida para uma história que começa a ser contada em flashback, mas na forma tradicional em que o fim nos é revelado para depois assistirmos à história calmamente.
Um dos méritos da realização/argumento é possuírem aquele condão de irritarem o espectador pelo facto dos “bons” estarem sempre um passo atrás dos “maus” sem disso se aperceberem. Isto acontece quando o filme começa a ficar interessante e, ao fim de algum tempo, somos conduzidos ao desenlace que havíamos visto no início. E a importância dessa ocorrência já antes mostrada é a de marcar a viragem neste aspecto: a partir deste ponto na história, são os “bons” que ficam em vantagem sem os “maus” saberem.
Conseguir isso e, mesmo assim, manter o interesse para além do sucedido e conseguir um clímax final que se aguenta de forma sustentada e credível é um dos méritos do modo como o filme foi construído.
Para além disso, tem um naipe de intérpretes muito bom: para além de Clooney, Tom Wilkinson, Sidney Pollack (numa das suas várias incursões pela interpretação) e a genial Tilda Swinton compõem um elenco que está mais do que à altura da história.
A personagem de Tilda Swinton, uma cabra deveras irritante, lembrou-me o papel mítico de Faye Dunaway em Escândalo na TV (Network, 1976), uma mulher tão implacável quanto vazia de emoções positivas, cujo objectivo de vida é cumprir, a qualquer preço, o propósito da sua profissão. Tom Wilkinson é alguém que já merecia um Óscar pelas muitas boas interpretações em que o tenho visto, sobretudo em Vidas Privadas (In The Bedroom, 2001) e Ou Tudo Ou Nada (The Full Monty, 1997). Tilda Swinton venceu um Óscar com este papel e Wilkinson e Clooney foram nomeados.
Sem ser um filme fora-de-série, Michael Clayton é um bom thriller, numa altura em que os temas e as receitas para este género de filmes começam a estar gastas. Não sei se algum dia reinventarão o género mas, enquanto não o fizerem, pelo menos que continuem a trabalhar sobre a mesma receita mas bem feito como é o caso deste filme, para que o espectador não se importe de ver algo que já viu, porque pelo menos viu uma coisa bem feita.
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