Depois de há tempos ter visto a série de uma assentada, tendo-a achado fantástica (é das poucas séries que vi completa), havia ficado com uma grande curiosidade para ver como é que Reviver o Passado em Brideshead havia sido retratado em livro.
E a série é tão fiel à escrita de Evelyn Waugh que é também por isso que é uma das maiores séries de culto britânicas. Uma história lindíssima passada entre guerras, que conta a época de descoberta de uma geração nas figuras de um conjunto de estudantes de Oxford em contraste com o arrepiante conservadorismo das famílias.
A descoberta da Amizade e do Amor entre dois jovens, Charles Ryder e Sebastian Flyte, a “fleumaticidade” de um por oposição à excentricidade do outro, que mais não era do que a fuga às garras de uma família tão castradora quanto vivia da imagem, tudo isto personificado numa devoção doentia à religião:
“- Continuar – sozinha. Como posso dizer o que vou fazer? Sabes tudo de mim. Sabes que não sou feita para uma vida de luto. Sempre fui má. Provavelmente serei má outra vez, serei castigada outra vez. Mas quanto pior for, mais preciso de Deus. Não posso escapar à sua mercê. É isso o que significa começar uma vida contigo, sem Ele. Só posso dar um passo em frente. Mas vi hoje que havia uma coisa imperdoável – como as coisas na escola tão más que não havia castigo, que só a mãe podia resolver -, aquilo que estava quase a fazer, mas não sou suficientemente má para ir até ao fim: arranjar um bom rival para Deus. Porque me foi permitido compreender isso, e não a ti Charles? Talvez por causa da mãe, da ama, de Cordelia, de Sebastian – talvez de Bridey e Mrs. Muspatt – dizerem o meu nome nas suas orações; ou pode ser uma aposta particular entre mim e Deus; se desistir disto que tanto quero, por muito má que eu seja, não me abandonará.”
Porque Brideshead Revisited é uma história sobre a luta que uma geração teve que travar para se afirmar contra os preconceitos da época (que ainda hoje subsistem), no momento da chamada “geração perdida” (lost generation), em que a sociedade não sabia que ligar ocupar no teatro da História…
É uma série sobre a Família, a Arte, a Religião, o Amor, a Amizade, … uma série sobre tudo o que a vida nos oferece.
Passada em cenários fantásticos (com o auge no “castelo” de Brideshead) com personagens fantásticos a viverem acontecimentos fantásticos, o romance de Evelyn Waugh é uma das obras mais belas que li nos últimos tempos. Um livro que trata da vida com uma linguagem tão cuidada e sublime quanto a majestade que pretende relatar e, simultaneamente, com palavras tão próximas e intimas quanto a sinceridade ou opacidade dos personagens. E este contraste de forma e conteúdo, com este cenário, e com esta história entra levemente e vai ficando… Júlia, Sebastian, Cordelia, Brideshead, Blanche, Sebastian, Mulcaster… continuam a existir muito depois de terminada a leitura, como os bares gay londrinos que frequentavam na década de 20, como a mansão de Brideshead com as suas salas magníficas e os jardins e estátuas majestosas, como as festas de estudantes nos quartos em Oxford, como os passeios românticos pelo ambiente rural britânico, como as visitas a Veneza, … tudo é poesia que permanece…
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