Robert Redford é outro homem do cinema que é muito melhor realizador do que actor (opinião que tenho manifestado ultimamente também a respeito de Ben Affleck). Mais: Redford é muito mais importante pelo que tem feito pelo cinema como um todo do que aquilo que reteremos das suas interpretações.
Sem o Festival de Sundance, por si fundado, um festival reservado para cinema independente, muitas obras deste género de cinema que despoletaram nos últimos anos nunca teriam tido a oportunidade de se mostrar e de entrar no circuito comercial.
A escolha dos filmes em que participou mostrou-se durante grande parte da sua carreira muito acertada (ultimamente nem tanto). Dois Homens e Um Destino (Butch Cassidy and The Sundance Kid, 1969), A Golpada (The Sting, 1973), O Nosso Amor de Ontem (The Way We Were, 1973), Os Homens do Presidente (All The President’s Man, 1976), Um Homem Fora de Série (The Natural, 1984) ou África Minha (Out of Africa, 1985) são exemplos de uma carreira que, embora nem sempre tenha sido constante, foi pontuada por grandes filmes.
Contudo, foi na realização que, na minha opinião, encontrou a forma de manifestar toda a sua sensibilidade, inteligência e realçar alguns aspectos da sua genialidade que os papéis que desempenhou em frente às câmaras nunca captaram.
Gente Vulgar (Ordinary Peolpe, 1980) marcou uma estreia assombrosa na realização. Para além dos prémios que arrebatou, o filme mostra-nos um drama familiar visto por uma câmara ora sensível, quase poética, ora dura e impiedosa, sem vergonha de colocar em confronto os defeitos que sobressaem nos seres humanos quando se confrontam com situações extremas.
Timothy Hutton é Conrad Jarrett, um jovem que acabou de sair do hospital após uma tentativa de suicídio. À medida que vamos tomando conhecimento das relações familiares e das tensões existentes e do papel que cabe a cada um numa família a tentar manter-se unida, vamos conhecendo o passado e o que levou à tentativa de suicídio de Conrad.
Donald Sutherland e Mary Tyler Moore são os geniais pólos opostos entre os quais se move o filho desamparado… a dinâmica das relações, sinceridade na manifestação das emoções, as aparências e o contraste com a realidade… todo este cocktail acontece numa bonita casa de um bairro tranquilo entre um Outono e um Inverno, ao som de um coro de igreja a cantar o Canon de Pachelbel.
Olhando para trás, é fácil emitir juízos sobre os intérpretes da História, uma vez que possuímos a omnipresença e capacidade de previsão que o facto de estarmos no futuro (em relação ao que já aconteceu) nos dá. Quero com isto dizer que é fácil hoje dizer algo como: “Como é possível este filme ter roubado o Óscar de Melhor Filme a Touro Enraivecido (Raging Bull, 1980)?”, um filme que facilmente (e merecidamente) figura em qualquer lista dos melhores filmes de sempre. Mas, para além de termos que contextualizar o tempo e o espaço (estava-se a entrar nos conservadores anos 80), não podemos simplesmente concluir que Gente Vulgar é um mau filme. Muito longe disso, é um exemplo de grande cinema.
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