E é assim que, passo a passo, vou
conhecendo os filmes de sempre: descobri que Emmanuelle Riva, a senhora que,
antes da sua brilhante interpretação em Amor (Amour, 2012) eu apenas havia visto
em Azul (Trois Couleurs: Bleu, 1993), entrou num filme que eu há muito queria
ver, já o tendo “perdido” por mais do que uma vez na Cinemateca: Hiroshima, meu
Amor (Hiroshima, mon amour, 1959).
Escrito por uma das grandes
senhoras das letras francesas, Marguerite Duras, Hiroshima, meu Amor conta a história
de amor vivida por uma actriz francesa e um arquitecto japonês em 1959… não é
tanto uma história de amor mas um dia em que ambos se encontram, se amam e em
que "ela" (ninguém tem nome próprio nesta história) é confrontada com o seu passado.
Com um enredo que se situa
algures entre o documental e o intimista, este filme foi um dos ícones da
Nouvelle Vague (uma boa colheita para esse "movimento": Os 400 Golpes (Les quatre cents coupes) de Truffaut , foi também lançado nesse ano). O tom melancólico e a efemeridade do amor marcam
toda a história, mas a assunção de normalidade perante um relacionamento
proibido mas arrebatador por um lado e receoso por outro é porventura o aspecto
mais arrojado desta história brilhantemente filmada por Alain Resnais. No que
respeita aos aspectos mais técnicos, a utilização do flashback mostrou-se uma
ferramenta essencial, muito mais ao serviço da história do que uma inovação
narrativa isolada.
Emmanuelle faz 86 anos no dia da
cerimónia dos óscares. Tal como em economia, também nos prémios de cinema não há
almoços grátis mas, em jeito de homenagem, seria um corolário perfeito o prémio
da Academia para uma das melhores interpretações do ano.
Em Hiroshima, tinha 32 anos e,
não conhecendo, além dos três filmes referidos, nenhum outro filme em que ela
tenha entrado, pelo reconhecimento da crítica, Amour é possível que seja o seu
melhor trabalho, mas Hiroshima, meu amor será, porventura, o filme que “mais
ficará para a história”.
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