Nada a Esconder


Mais um filme de Michael Haneke e mais uma vez, um filme que me surpreendeu.
Achava eu que tinha já visto seus os melhores filmes, quando resolvi ver um que, embora com boa crítica, não estava incluído naquilo que eu pensava ser a lista dos seus melhores filmes. Nada a Esconder (Caché, 2005) conta uma história que não lembra a ninguém e de uma forma ainda mais fora do comum. E consegue tal objectivo com uma obra tão perfeita, quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista de análise da natureza humana (não me canso de elogiar este mérito do cinema de Haneke), quanto comercial e altamente entertaining.

Uma família de Paris começa a receber em sua casa cassetes de vídeo com filmagens da casa… de cenas do quotidiano. Se tal é irritante, torna-se assustador quando as ditas cassetes começam a vir acompanhadas de desenhos sanguinários. E quando as filmagens e os desenhos começam a fazer Georges (o homem da casa) relembrar a sua infância, começa um verdadeiro terror pessoal, ao mesmo tempo que vai desencadear a confrontação dos membros da família com aspectos bem escondidos da sua natureza.

Daniel Auteuil e Juliette Binoche são perfeitos.
Nada a Esconder é mais um exemplo (como são todos os cinco filmes de Haneke que já vi) do que é um trabalho de realização muito próximo da perfeição (e muitíssimo bem auxiliado pelos dois responsáveis de montagem).
Este foi o primeiro filme em que Haneke utilizou câmaras de alta definição e esse facto nota-se na nitidez dos planos que filmou. O aspecto visual ou a sensação causada pelas imagens é uma constante dos seus filmes. Não sei se escolhe temas duros e sombrios ou se consegue ver as sombras onde o cidadão comum (eu incluído) nem imaginaria.
Numa das cenas deste filme, fiquei mais de um minuto a tentar processar o que tinha acabado de ver. A última vez que me lembro de ter sido surpreendido desta forma num filme foi em… Amour.

De notar que o filme estava indicado como candidato da Áustria para o óscar de Melhor Filme Estrangeiro mas foi desclassificado porque o “francês não é a língua predominante da Áustria”! Provavelmente as regras mudaram pois Amour é também um filme indicado pela Áustria e é também falado em francês e está nomeado este ano não só para Filme Estrangeiro como também para Melhor Filme.

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