Ferrugem e Osso


Ferrugem e Osso (De rouille et d'os, 2012) foi um filme que me saiu muito melhor do que a encomenda.
Já tinha visto dois filmes de Jacques Audiard dos quais gostei mas que se situaram pouco acima do nível de indiferença: De Tanto Bater o Meu Coração Parou (De battre mon coeur s'est arrêté, 2005) tem um título bem melhor do que aquilo que vale enquanto filme e o aclamadíssimo Um Profeta (Un Prophet, 2009) é um filme que muitos amantes de cinema veneram mas que eu acho não achei especialmente brilhante.
Assim, eu tinha grande curiosidade em relação a este Ferrugem e Osso.
E de modo algum saí defraudado: é um grande filme sobre as relações humanas e as circunstâncias mais ou menos difíceis em que as pessoas vivem, através das quais de aproximam e do que é uma relação, do que é conviver e as múltiplas formas que podem dar significado à palavra “gostar”.
Stephanie e Alain são dois seres maltratados pela vida: de formas bem diferentes, a infelicidade é a sua vida. A dele: despreocupada; a dela: amargurada.
Mas um acontecimento que tinha tudo para os afastar aproxima-os, e de uma forma tão realista que o romantismo desta história acontece de um modo bem diferente daquele que normalmente nos é servido. Porque se uma relação pode mudar quem somos, não temos que mudar a nossa essência. E se aceitar a natureza do outro pode ser confundido com fraqueza, prefiro olhar como a prova de amor maior.
Há dureza a mais para esta história ser olhada como uma simples história de amor, mas é nesse contraste entre o amor e a infelicidade que somos convidados a olhar para o lado positivo da vida e valorizar, em cada momento, aquilo que temos.
Depois, há as magníficas interpretações de todo o elenco, em especial os dois intérpretes principais, Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts, e um trabalho brilhante de Jacques Audiard em múltiplos espectos: no modo como nos mostra esta história, nas belíssimas imagens que nos oferece e, em particular, em duas cenas, das mais fortes que vi no cinema nos últimos tempos.
Curioso com este filme é o facto de as pessoas de quem eu não esperava que gostassem terem gostado e de quem eu esperava uma opinião positiva não gostaram. Creio que isto só valoriza o filme: uma obra que não é unânime nem indiferente possui, à partida, um valor intrínseco muito precioso.

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