Vi há pouco tempo um filme que me surpreendeu, Persépolis (Persepolis, 2007), realizado por Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi.
Baseado na vida da própria autora, Marjane Satrapi, o filme cobre parte da história recente do Irão, desde os últimos tempos do Xá da Pérsia, a revolução islâmica com os Ayatolas e, ao contar a história da sua própria família, Satrapi viaja até ao início do regime do Xá (o pai).
Curiosos mas não surpreendentes são inúmeros factos: como a modernidade do primeiro Xá e a corrupção do segundo não impediram a modernização do país por um lado e as brutais perseguições políticas por outro; como a abertura esperançada no regime dos Ayatolas saiu defraudada vindo o país a cair numa ditadura muito pior do que a precedente, como este país fantástico me continua a surpreender com o seu desenvolvimento ideológico e o progressismo que teimam em subjugar a um fundamentalismo islâmico que utilizam mais como desculpa para acreditar um regime absolutista (não são árabes mas persas). É pelo cinema que vejo o quanto há gente de mente aberta no Irão e este filme veio, mais uma vez mostrar isso mesmo.
Depois, e ainda na história, há a história de uma vida, talvez mais importante do que a história de um país. As duas são indissociáveis tal é a força com que a vida da pequena Marji é marcada pelo meio histórico e social em que viveu a sua infância e adolescência. Mas, apesar de tudo, consegue afirmar a sua individualidade e arriscar viver uma vida que é sua.
Por fim, o estilo: Persépolis é um filme de animação, quase na totalidade a preto-e-branco. É um filme de animação para adultos, e é um filme de animação que bem que poderia não o ser: a história que conta é muito cinematográfica, mas a novidade está em retratar esta história de uma forma que, na aparência, poderia parecer mais aligeirada (o cinema de animação é associado aos mais novos), mas o tom sombrio trata de desfazer esse mito logo desde o início.
Um filme que é um documento histórico sobre uma parte importante do séc. XX e, ao mesmo tempo, a história de uma vida fantástica e riquíssima: os prémios da crítica e o reconhecimento do público confirmam a qualidade da obra.
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