Que “filmasso”! Aconteceu-me
esperar pelo momento apropriado para ver este filme. Porque é de um dos
melhores realizadores de sempre, porque é um filme conceituadíssimo (e que foi
“pobremente” recebido pela crítica na altura) e porque é um filme com uma
duração ligeiramente acima da média (3h45m).
Dito isto, digo também
que Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America, 1984) é um filme
genial a todos os níveis. Com um único filme entrei para o “clube de fãs” de
Sergio Leone (os western-spaguetti não contam: vi-os há tanto tempo que tenho
que os rever para formar opinião). Todas as marcas da genialidade estão lá: da
beleza extasiante das imagens (sublime a forma como consegue apresentar as
cenas mais brutais com uma beleza contraditória – a cena da violação é qualquer
coisa de extraordinário) ao argumento perfeito (e que mostra que não somente de
diálogos se constrói um grande argumento mas também – ou sobretudo? – da
marcação do tempo – as quase 4 horas de filme passam muito bem), da banda
sonora de Ennio Morricone (a qual eu já conhecia, mas vê-la inserida na
história e associada a caras e a situações fá-la ganhar outra dimensão…
sobretudo Deborah’s Theme) ao conjunto de intérpretes fantásticos e terminando
numa recriação de época(s) em 3 períodos distintos brilhante.
Tirando os actores que
tiveram a sorte de participar na época de ouro do cinema, Robert de Niro
arrisca-se a ser o actor da actualidade que mais participações tem em filmes de
culto ou que marcaram (e marcarão) o cinema para sempre. Para isso contribuíram
a sua qualidade, escolha criteriosa e alguma sorte também.
E do que trata Era Uma
Vez na América? Sem me alongar, conta a história de um gang de um bairro judeu,
a sua ascensão no mundo do crime (semi-)organizado e o seu crescimento enquanto
jovens e transformação em homens. Ao mesmo tempo, Era Uma Vez na América é
também a história da América e daquilo que a consolidou enquanto país. É uma
história épica com tanta substância e, no entanto, passível de ser contada em 3
ou 4 frases.
Ao nível dos filmes do
submundo ou da máfia de Scorsese ou Coppola, Era Uma Vez na América é um filme
clássico que só poderia ser feito na era moderna: a visão que tem sobre a
história e os meios que utiliza para a contar só poderiam ser utilizados nas
décadas mais recentes. Mas consegue-o com um respeito pelo passado que nem
sempre é fácil.
Não sei se há filmes
obrigatórios para os amantes de cinema mas se não há passa a haver: porque este
é um deles.
PS: A cara da jovem
Deborah, ainda criança, não me era estranha, mas não a estava a conseguir
associar a nenhuma actriz que eu conhecesse: nos créditos finais surpreendeu-me
saber que Jennifer Connely tinha participado neste filme.
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