“O pior Verão dos últimos 200 anos”
Mesmo em
Ciência, há fanfarrões (veja-se a “descoberta” da fusão a frio), e o anúncio
dos meteorologistas franceses, há uns 2 meses, de que este seria o pior Verão
dos últimos 200 anos tem tanto de sensacionalista como de patético.
Até agora
(já passámos cerca de dois terços do Verão), tem sido um Verão normal:
lembro-me de Verões bem piores nos últimos 5 anos, daí, para além de patético,
não foi muito inteligente pronunciar tal afirmação. Se houve Verões “maus”
ultimamente, não seria normal que o próximo viesse a ser o pior (e logo dos
últimos 200 anos!).
Como
leigo, apenas posso basear-me no conhecimento do senso comum. E este diz-me
que, a mais de 3 ou 4 dias de distância, as previsões ganham um grau de
incerteza exponencial: basta constatar que a teoria do caos teve a sua origem
em equações que serviam para… prever o tempo. Uma ligeiríssima variação no
valor de uma das variáveis explicativas do modelo (na ordem das milésimas de
milésima), fazia com que a previsão do modelo meteorológico fosse radicalmente
diferente. Matematicamente, é como uma função ser “quase vertical” na
vizinhança de um ponto: uma ligeira variação no objecto e a imagem afasta-se
muitíssimo da imagem anterior.
Mas se
isto é assumido, conhecido e tido em conta por quem lida com este tipo de
fenómenos físico-matemáticos, porque é que ainda se dá crédito a alguns
patetas?
Acredito
serem vários os motivos:
- O
óbvio: a comunicação social reflecte a ignorância do seu público-alvo por um
lado, e é alimentada pelo sensacionalismo da notícia fácil, ainda que careça de
confirmação ou base;
- A já
referida fanfarronice de quem se diz cientista mas que mais não busca do que a
promoção pessoal ou de quem se julga mais esperto do que os outros (povos ou
profissionais);
- Algum
atraso na área da meteorologia: parece-me que esta área da ciência está muito
atrasada face às restantes. No século XXI conseguirmos com “alguma” fiabilidade
fazer previsões meteorológicas a 3 dias parece-me manifestamente pouco. Ou
então, o facto do tempo ser algo que desperta a curiosidade de todos, seja para
a actividade profissional ou para lazer, faz com que todos estejamos mais
atentos ao trabalho científico nesta área e logo, as fragilidades desta estejam
mais expostas do que noutras áreas.
Seja como
for, o último ponto mostra que os meteorologistas deveriam ser mais cuidadosos
e admitir que a margem de erro é grande, e neste caso estão calados e
limitam-se a olhar para 3 dias à frente e nada mais.
Em Ciência, um dos grandes trunfos é o cuidado com a divulgação da informação após
ser testada sucessivamente. Quando há palhaços a fazer Ciência, deixa de ser Ciência e passa a ser uma palhaçada, que foi o que aconteceu em França este
ano.
Parabéns
aos palhaços porque conseguiram colocar a Europa a falar deles e mais:
dando-lhes crédito ao mencionar a informação por eles papagueada como um dado
adquirido.
PS: Não é
por acaso que, nas previsões diárias do Instituto Português do Mar e da
Atmosfera, apenas até ao 3º dia é que as previsões são feitas por homens: a
partir daí são modelos e tal está devidamente assinalado no site. Embora
arrisquem imprudentemente publicar previsões até 10 dias, pelo menos indicam
que aquela previsão sai de um modelo (com a teoria do caos por trás). Por vezes
acompanho tais “previsões” e, com uma frequência bastante elevada, verifico
alterações substanciais entre a previsão para o 10º dia e a previsão para o dia
seguinte 9 dias depois.
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