Miguel Ramos - um professor único - um ano depois


Ter voltado a um anfiteatro da FCUL mais de 8 anos depois de lá ter estado pela última vez só podia ter acontecido com um forte pretexto. A homenagem ao professor Miguel Ramos, um ano após a sua morte, foi o motivo que me levou de novo ao 3.2.14, uma das primeiras salas que conheci na Faculdade. Nos últimos anos, só por duas vezes havia voltado à FCUL, para as bênçãos das fitas das minhas irmãs. Ter regressado agora por este motivo constituiu para mim uma honra: um dia de férias muito bem aproveitado. Senti uma sensação estranha: os corredores, os bares, a biblioteca, … tinha alguma curiosidade em ver antigos professores e colegas de curso e foi giro reparar que uns estão mais velhos, outros mais gordos, mas muitos permanecem na mesma (fisicamente). Um ou outro reconheceram-me, a cara mas não o nome, o que não é de estranhar uma vez que fui um aluno mediano: mais um “rosto na multidão”, enquanto aluno. Contudo, gostei de rever alguns professores com quem me cruzei em alguma fase do meu curso: o Prof. Pedro Freitas, a Professora Teresa Monteiro Fernandes, a Professora Gracinda Gomes, a Professora Maria João Gouveia, o Professor Carlos Albuquerque e outros de quem não me recordo do nome, bem como o Hugo e a Célia, colegas de curso. 

Não tendo podido ficar até ao fim, ainda vi as duas apresentações dos alunos de doutoramento do Professor Miguel Ramos (um deles o Hugo), que achei, cada uma no seu estilo, geniais. Pela honestidade com que mostraram o que sentiam em relação a Miguel Ramos, por terem conseguido mostrar, através a de facetas mais explícitas ou mais íntimas, o grande ser humano que ele era, e por terem equilibrado o profissionalismo de quem tem algo a apresentar com a emoção de quem homenageia um amigo que partiu, deixo-lhes os meus parabéns e o meu agradecimento. 

Durante o intervalo para o café, estava eu a observar as poucas caras que conhecia quando a Professora Teresa Monteiro Fernandes se aproximou simpaticamente de mim e me questionou sobre se eu não conhecia ninguém com quem falar… perguntou o meu nome (havíamos trocado breves palavras no anfiteatro mas eu não lhe havia dito o nome) e eu respondi “o António” ao que ela devolveu: “o Vasconcelos?”. Levou-me de imediato até ao professor Luís Sanchez, dizendo que ele queria conhecer quem havia escrito no blog. E quando o professor me disse que tinha utilizado uma passagem do que escrevi há um ano, no texto que ele havia escrito no boletim da SPM dedicado a Miguel Ramos (tenho que conseguir esse boletim), para além de satisfação senti uma certa estranheza: um professor da FCUL a citar-me?! Quando voltámos ao anfiteatro e o Hugo iniciou a sua apresentação, acelerou-me o coração quando vejo que a primeira citação havia sido retirada do mesmo texto… 

Sinto-me honrado com a pequena contribuição para homenagear um dos melhores professores que tive em todo o meu percurso escolar. No meio de tantas, tão boas e tão sentidas homenagens, todas insuficientes, estou certo, mas todas feitas com um enorme coração, já tudo foi dito sobre as várias facetas do Professor Miguel Ramos. Destaco uma que é para mim um exemplo: a transparência em mostrar em cada momento aquilo que era, sem preocupações em passar qualquer imagem pensada: quando se é bom, a autenticidade é o melhor cartão de visita e isto é uma arma que não está ao alcance de qualquer um. 

PS: Aquando do intervalo, a professora Teresa Monteiro Fernandes perguntou-me se eu queria dizer umas palavras no final pois iria haver um espaço para tal. Vacilei (escrever é bem mais fácil do que falar para um auditório), mas não havia tomado uma decisão. Sabia que teria que sair pelas 18:00. Quando o professor Luís Sanchez perguntou se alguém tinha algo para dizer, até transpirei perante o dilema entre a timidez e a vontade de dizer umas palavras acerca do Professor Miguel Ramos. Fui “salvo” pela Professora Teresa Monteiro Fernandes, quando se dirigiu para o centro dizendo que ainda faltavam duas intervenções: ficou resolvido o meu dilema uma vez que teria que me ausentar pouco depois, sem eu próprio saber se teria tido coragem de dizer algo. Quero acreditar que sim…

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