Óscares II – dois filmes respeitados


Vistos O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) e O Clube de Dalas (Dallas Buyers Club), quer um quer outro surpreenderam-me pela positiva. 
Nenhum é excelente, mas o facto de ambos serem baseados em histórias reais (com todas as reticências que tal implica), impacta mais forte na opinião que formei. 

E são dois filmes muito assentes em magníficas performances masculinas principais… qualquer uma delas genial. 
Matthew McConaughey tem para mim a melhor interpretação do ano, e é muito mais do que perder 20 quilos para representar um doente com sida: McConaughey incorpora na perfeição o bronco texano dos anos 80 que tem que se safar perante uma doença desconhecido e mal vista, e em torno da qual giram uma série de agentes sanguessugas do sistema de saúde norte-americanos, seja em busca de protagonismo seja de dinheiro.
Leonardo di Caprio tem também um papel genial, dando vida quase na perfeição ao ideal louco (e desumano) americano de Wall Street, o mundo dos correctores e dos sonhos assentes numa realidade virtual, a das transacções, a loucura do dinheiro e dos excessos, o excesso de dinheiro, de droga, de sexo, … e se algo foi exagerado para criar um filme, aquela realidade não andou muito afastada desta ficção: era o deboche total e um retrato muito bem conseguido da podridão a que pode chegar o ser humano… aliás, aqueles seres não parecem humanos… a sofreguidão por novas experiências sentida constantemente por um conjunto de autómatos insaciáveis é muito bem retratada pela genialidade de Martin Scorcese (uma grande realização).
Neste ponto há uma diferença clara de qualidade entre os dois filmes: a realização de um é bem melhor do que a do outro. Mas O Clube de Dalas é também ele uma obra notável, no retratar, curiosamente, do mesmo período de O Lobo de Wall Street, embora num ambiente e comunidade totalmente diferente (NY-Dalas; Dinheiro-Sida).

As mais de duas horas e meia de O Lobo de Wall Street são leves; o exagero do sexo ou da palavra “fuck” não mais são do que realismo.
A frágil organização que um grupo de doentes de Sida conseguiram formar preenchem uma história dramática da persistência de um homem.

Dois filmes que, não fossem os papéis principais dos seus protagonistas, perderiam muito, mas que não se reduzem a isso e assim, valem a pena.

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