Moscovo Não Acredita em Lágrimas (Moskva slezam ne Verit, 1979) é um filme diferente de todo o cinema soviético que vi até hoje.
Entre a propaganda política - O Couraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, 1925) de Eisenstein, A Balada do Soldado (Ballada o Soldate, 1959) ou Quando Voam as Cegonhas (Letyat shuravli,1957), por exemplo, e o dificil simbolismo do cinema de Tarkovsky, aconteceu ver recentemente um filme que, apesar do género mais mainstream (na forma e no conteúdo) me agradou: Moscovo Não Acredita em Lágrimas.
O filme conta a história simples da busca do amor por três amigas. As consequências do que se semeia na vida, o ambiente político (levemente descrito), a luta de classes e de géneros, e a sempre dificil conjugação das relações humanas no meio em se movem são os ingredientes de uma obra que tem no ritmo com que decorre outro grande trunfo para que tivesse resultado (as 2 horas e 20 minutos passam a correr).
E se a simplicidade é tantas vezes um factor de empobrecimento de uma obra, noutras, como neste caso, distingue-a por ter o mérito por, sem nunca perder a riqueza, a tornar acessível e "gostável".
Não é um filme intelectual (longe disso) mas está uns furos acima das comédias românticas tradicionais, e é nesse meio termo que Moscovo Não Acredita em Lágrimas consege contar uma história séria, credível e bonita.
A busca do amor é um objectivo de vida primordial? O que é o sucesso e o que é uma vida de sucesso? Como tantas vezes a sucesso profissional apenas compensa a carência afectiva; homem versus mulher ou o preconceito social que, apesar de tudo, hoje está ligeiramente diferente; campo versus cidade e a estranheza pela escolha por uma vida mais simples; o modo como a opção por uma carreira simples pode ser entendida como falta de ambição, etc...
Não vale a pena dizer mais: vale a pena ver.
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