Robin Williams - O pequeno grande homem


Habituei-me a acompanhar Robin Williams desde sempre. Era (é) daqueles actores que faz parte da minha infância e adolescência, e do qual a minha geração consegue recordar 3 ou 4 filmes icónicos: Bom dia, Vietname (Good Morning, Vietnam, 1987), O Clube dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), Despertares (Awakenings, 1990) e O Bom Rebelde (Good Will Hunting, 1997). E ficamos por aqui quanto a filmes de qualidade.

Robin Williams estava longe de ser dos meus actores preferidos. As (muitas) más escolhas que fez ao longo da carreira resultaram num conjunto de filmes incaracterístico, a maioria deles bastante maus. Contudo, um filme apenas pode ser suficiente para ganhar um lugar na eternidade e Robin Williams conseguiu esse lugar com o professor John Keating em O Clube dos Poetas Mortos. Uma interpretação genial que sõ não lhe valeu o óscar porque teve o azar acontecer num dos anos mais fortes no que respeita a interpretações masculinas.
John Keating é o professor que todos gostariamos de ter tido. O filme é um dos mais belos exemplos de como podemos abordar o sentido da vida... do quão assustador isso pode ser e de como podemos extrair algo desta existência que, paradoxalmente, sabemos ser finita (tal como a conhecemos).

O humor, e sobretudo o riso, esconde um sem número de paradoxos (quem é que não ouviu já quão tristes são os palhaços por trás da máscara?). João Miguel Tavares desenvolve este e outros tópicos no seu artigo do Público sobre Robin Williams (http://www.publico.pt/opiniao/noticia/robin-williams-a-noite-e-o-riso-1666359).
Robin Williams teve esse enorme mérito de, mesmo com mais ou menos escolhas menos conseguidas, ter conseguido entrar no imaginário colectivo e ter captado a simpatia do público. E isso não são os prémios que o conseguem... é algo mais... uma empatia que, mais do que ser explicada, se sente.

O álcool, a depressão e, mais recentemente a doença de Parkinson venceram Robin Williams. Atrevo-me a dizer que entendo o desespero a ponto de toldar a visão da realidade mascarando-a com uma monstruosidade que ela não possui. No entanto, a capacidade de escolher o momento de partir não poderá ser visto como o mais forte sinal de lucidez? Robin Williams "aproveitou o dia" e provavelmente achou que a sua missão nesta vida estava cumprida... se não houvesse outra razão, o apoio que deu ao amigo Christophes Reeve e depois, ao seu filho após a morte dos pais justificariam, por si só a sua passagem pela existência. Personificar John Keating reservou-lhe um lugar na eternidade.
Onde quer que ele esteja (se é que está em algum lado), agradeço-lhe o privilégio de poder ter observado Sean Maguire (o psicólogo de O Bom Rebelde) e John Keating no cinema. Personagens que tinham como missão a compreensão do outro. Faltou alguem que o compreendesse...

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