Há muito que repito,
em conversas com amigos, sempre que os senhores (e as senhoras) do tempo falham
ou alguém se atravessa com “para a semana vai fazer sol a semana toda”
que a Meteorologia é uma das ciências menos avançadas, quando comparada com as
restantes e com o desconforto a que não nos consegue poupar ao falhar tantas
vezes, sobretudo a mais de três dias de distância (outra dessas ciências é a
Medicina, apesar da sua enorme evolução, por não conseguir ainda dar respostas
decentes a algumas doenças filhas da puta como o Alzheimer, o Parkinson ou o
Cancro).
Para atestar da
enorme dificuldade presente numa previsão meteorológica, basta dizer que ela
constitui um dos exemplos empíricos, mais próximos da perfeição, da aplicação
da Teoria do Caos, um ramo da Matemática que pode ser grosseiramente
caracterizado como um sistema determinista no qual variações mínimas nas
condições iniciais produzem resultados substancialmente diferentes dos
inicialmente esperados. Não deixa de ser um sistema determinista, nós é que não
conseguimos prever a alteração das variáveis iniciais, daí a ideia de Caos ou
acaso, um acaso que só o é na aparência pois há equações capazes de o prever
(removendo-lhe o carácter aleatório). Se pensarmos no vento, na temperatura ou
na humidade, nos factores que influenciam cada um deles e em como um grau a
mais, 1 km/h a menos ou uma mudança mínima de direcção pode produzir previsões
substancialmente diferentes, penso que não fica difícil compreender o mérito por
trás de uma previsão correcta.
Li há alguns anos
(mais de quinze seguramente), julgo que no livro Pense Num Número embora
não o possa jurar, que numa estação meteorológica (ou teria sido um centro de
investigação?), um dos cientistas (Lorenz?) havia anotado os valores das
variáveis bem como das previsões antes de se ausentar. Ao regressar, deparou-se
com previsões completamente diferentes. Na procura das causas para o fenómeno,
concluiu que o facto de ter apontado x casas decimais para as variáveis (penso
que seis mas deve ser a memória a dar uma de importante) havia, com o
arredondamento, alterado suficientemente os seus valores para produzir um resultado
muito distante do anterior. Nascera o Caos e todo um maravilhoso ramo de
investigação.
[DETALHE TÉCNICO] Na
escola secundária, já nos é oferecida uma amostra desta Teoria do Caos quando,
ao darmos uma função com uma assimptota vertical, no cálculo das imagens de
dois objectos “suficientemente próximos da assimptota e próximos entre si”,
elas são substancialmente diferentes. Se transpusermos uma função de uma
variável para várias funções dependentes de n variáveis cada (ó Meteorologia), temos o Caos instalado! [FIM DE DETALHE]
Também a vida tem a
sua Ciência da Atmosfera, com a pequena-grande Teoria do Caos dentro de
si: os acontecimentos (quotidianos ou extraordinários) que todos os dias nos
trazem resultados inesperados, a pequenas variações no estado de espírito que
nos levam a dar uma resposta torta ou um sorriso para uma mesma interpelação e
assim produzir reacções (resultados) completamente diferentes, são exemplos
desta Matemática das coisas.
Assim, sempre que um
miúdo (ou um adulto burro) disser que “a Matemática não serve para nada”,
ou é orgulhoso ou ignorante. E sempre que os homens previrem mal o tempo para
os dias seguintes, estão apenas a mostrar-nos quão difícil é hoje para nós
saber como nos vamos sentir amanhã. Imaginemo-nos avançar com semelhante
estimativa para uma semana (ou até para o próximo Verão!)
Pensando melhor, a
Meteorologia até é uma Ciência bastante avançada; a nossa vida e a nossa mente
é que são muito mais complexas do que os ventos e as marés.
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