Charles Boyer e o Sentido da Vida

Charles Boyer foi um dos grandes actores da época de ouro do cinema.
Participou em clássicos como A Meio Gás (Gaslight) ou Ele e Ela (Love Affair).

Casou com a também actriz Pat Paterson em 1934, com quem permaneceu até 1978. A 24 de Agosto desse ano, Paterson morre e Boyer, não vendo motivos para continuar a viver decide cometer suicídio dois dias após a morte da mulher, a 26 de Agosto.

História lindíssima, e de um amor sem igual, Boyer transportou para a vida real o sonho cor-de-rosa que acreditamos apenas existir no cinema. Entendeu que a vida não faria sentido sem ter a seu lado a pessoa que o havia acompanhado durante mais de 40 anos e, mais do que isso, a pessoa que havia amado.
É sabido que algumas pessoas de idade avançada, ao perderem o(a) companheiro(a) de uma vida, rapidamente se vão tornando ausentes, partindo involuntariamente desta vida, uma vez que, com a partida da pessoa amada, partiu também o suporte de uma vida. Mas quantos têm a “coragem” de partir sem esperar que a Natureza cumpra a sua função? Boyer foi fiel aquilo em que acreditava…

Mas será maior a coragem necessária para tirar a vida após a perda de uma vida de amor do que a coragem para lutar para justificar o tempo suplementar que nos foi concedido?
Não sei… sei apenas que a vida é um bem de tal modo precioso que acredito valer a pena lutar por ela, mesmo quando as adversidades surgem nas mais inesperadas situações.
Somos diferentes e o modo como cada um olha para a realidade só a si diz respeito. Acredito que o desespero que Boyer sentiu foi de tal modo forte que o levou a tomar uma atitude extrema. Só ele sabe o que sentiu quando projectava a migalha de vida que tinha pela frente.

Acredito na capacidade do ser humano sair das mais difíceis situações, apesar de ser apenas um optimista apenas moderado (e reservado). É isso também nos torna humanos: a capacidade de darmos a volta a situações nas quais a nossa demasiada humanidade nos colocou… a capacidade de chorar com a certeza de que, mesmo que nunca mais venha até nós igual felicidade àquela que uma vez vivemos, a vida continuará a valer a pena, e alguma felicidade continuará a espreitar.

Não será muito mais bonito recordar a felicidade de um amor do que terminar com uma vida e com ela, com a réstia desse mesmo amor?

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