O pior espectáculo do mundo

As máscaras que lhes tapavam a cara não faziam prever nada de bom. Lembravam etarras nos piores tempos da organização.
Os que não tinham máscaras não deixavam de ter uma marca distintiva, como se sem isso não ficassem completos, se tornassem orfãos da irmandade selvagem a que pertenciam.
Dizia-se de Átila, o líder Huno, que por onde passava a erva não voltava a crescer. A destruição deixada por esta cáfila delinquente faz lembrar a selvajaria de outros tempos. Não há montra ou carro que se mantenha intacto, como se um qualquer pedaço de vidro possuísse uma força de atracção auto-destruidora.
Os inocentes que tinham o azar de se cruzar no seu caminho eram de imediato apedrejados e, se porventura tivessem o azar ainda maior de não comungarem dos ideiais da irmandade, não era com simples pedras que o assunto era resolvido.
Cocktails molotoff rasgam o ar para aterrarem junto dos opositores ou da autoridade (que muitas vezes constituem uma única entidade).
As crianças choram, os pais protegem-nas com o último recurso que lhes resta: o próprio corpo. A autoridade tenta aplacar a violência crescente com a violência defensiva, após ter resistido estoicamente a todo um rol de provocações sem nada poder fazer enquanto uma ordem superior não lhes desse autorização para defender os mais fracos, ordem essa que, em última instância, partiu de algum político que, por cobardia social e falta de estrutura mental, colocou a hipótese, durante longuíssimos minutos, de que "poderia estar a atingir os direitos que uma minoria tem de se manifestar livremente" ao ordenar uma resposta violenta contra um bando de pessoas que não são mais do que "vítimas da sociedade".
A maior ou menor duração do tempo de reacção e posterior tomada de decisão tem definido os grandes líderes ao longo da História. E é precisamente nas situações em que a decisão é cristalina que os cobardes mais vacilam. Porque a retórica "dos direitos iguais" degenerou em "direitos desiguais", falaciosamente entendido como a condescendência excessiva com que a sociedade tem que aturar os mais desfavorecidos.
Não tiveram a clarividência suficiente para compreender que a discriminação positiva quando a situação o exige é o melhor exemplo de equidade. É bem vinda, ajuda a esbater as diferenças que, infelizmente, sempre vão existir, e permite a quem não teve tanta sorte na vida, poder ser um pouco mais igual a nós, os previligiados. Mas a condescendência lasciva é amoral... mais, é criminosa uma vez que, em benefício de um grupo (minoria ou não) de "intocáveis" se prejudica toda uma cultura.
Após a "festa", os prejuízos são avultados, mas "temos que nos congratular por só terem havido feridos ligeiros". O cenário de destruição é desolador, alguém pagará o arranjo das montras, dos carros, e o tratamento médico de algum "ferido ligeiro mais grave".
Políticos e líderes institucionais lamentam o sucedido, proferem promessas de que terão que ser tomadas medidas no futuro que impeçam a repetição de tais actos, e o dia termina com a condenação colectiva do acto dos selvagens sem que tenham existido quaisquer consequências.
Terá sido um golpe de estado num país porventura selvagem? terá sido alguma manifestação anti-globalização dos anarquistas do costume?
Não!
Foi apenas um grupo de adeptos mais exaltados a caminho do derbie...

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