Princípio da incerteza, o Princípio da Vida

"Não se pode saber, num dado instante, a velocidade e a posição de uma partícula"
Werner Heisenberg
O Princípio da Incerteza, sendo uma das afirmação que mais celeuma causou na História da Ciência, pelas implicações altamente contra-intuitivas (algumas fortemente exageradas) que originou, é, para mim, um dos Princípios que mais experiencio na minha vida.
A experiência do Gato de Schrodinger traz-me ao Ego inúmeras experiências escondidas nos meandros da minha memória (algumas talvez, armazenadas mesmo no Id). Nos momentos de maior produtividade cerebral, questiono a capacidade que temos, enquanto seres vivos, de influenciar uma experiência, seja ela qual for, que, até há 100 anos, acreditávamos ser independente da nossa existência.
Um acontecimento que, na linha cronológica do tempo já tenha ocorrido, só ocorre realmente na minha vida quando eu o experiencio. A ocorrência só se materializa nesta vida que é minha, no instante em que tomo contacto com ela (propositadamente ou não).
Um exemplo de que gosto particularmente tem a ver com sms. Quando recebo uma mensagem no telemóvel, e não vejo logo, essa mensagem pode ser, para mim, de qualquer destinatário, conhecido ou não, apesar de, na realidade exterior ao meu conhecimento, alguém já tenha, efectivamente enviado a mensagem, e ela já esteja no meu telemóvel, vinda do telemóvel desse "alguém".
Contudo, na minha vida, o remetente continua a poder ser qualquer pessoa. Todas as possibilidades permanecem em aberto e permito-me sonhar com o envio de uma mensagem de alguém de quem gosto com alguma notícia que me fará um pouco mais feliz. Apenas no momento em que decido "estragar a surpresa" e voltar a tomar conta da minha vida na sua plenitude é que aquela mensagem passou a ser da pessoa cujo nome vejo no visor naquele preciso instante. Só nessa fracção de segundo é que essa pessoa me mandou aquela mensagem, só nesse momento é que os acontecimentos "Envio da mensagem" e "Recepção da mensagem" foram unidos estabelecendo um elo entre mim e o emissor através da mensagem e da minha observação. Fui eu que fiz com que aquela mensagem daquela pessoa tivesse sido enviada para mim.
Com a minha observação influenciei o resultado da experiência.
Se não existisse ninguém para receber a mensagem, ela nunca teria cumprido o seu destino e, não existiria na vida de mais ninguém senão na do emissor (se formos os únicos seres vivos na imensidão do Espaço, corremos o risco de que as mensagens que enviamos para "ninguém" pura e simplesmente não existam).
Gosto de periodo de incerteza em que tudo pode acontecer até à abertura final do cofre. No momento em que o cofre é aberto, o periodo deixa de existir e a experiência torna-se numa única, mas até lá, sou o dono de algo que só eu tenho o poder de fazer acontecer. E é irónico que, só controlo esta experiência à qual sou alheio, precisamente enquanto decidir manter a dúvida. A partir do momento em que decido ir à procura da resposta e quero saber qual a mensagem e de quem é, a experiência passa a fazer parte de uma vida comum a todos os agentes, mas Eu, deixo de a controlar.
O exemplo da mensagem é ilustrativo das multiplas possibilidades com que nos deparamos em cada instante.
Simultaneamente, a Ciência complementa esta abordagem mais contra-intuitiva, com cálculos muito específicos. A Física Quântica não é um simples devaneio de meia dúzia de cientistas loucos, mais ou menos irmanados numa espécie de seita, mas uma realidadade (ou "A Realidade") da qual nos vamos apercebendo à medida que vamos evoluindo. Mas como qualquer processo evolutivo, os progressos só são visíveis à escala de tempo terrestre... talvez, com boa vontade, possamos medi-lo em décadas (em vez de séculos ou mesmo milénios).
No que a mim me diz respeito, gosto de viver neste tempo, nesta fase da evolução em que tenho tantas respostas quanto dúvidas, em que me permito a ter um conhecimento razoável de tudo e, simultaneamente, ter consciência de que as possibilidades imensas das dúvidas que tenho fazem que que controlo apenas um grão de areia deste bolo a que se chama Conhecimento.
Paradoxal? Não: simplesmente uma abordagem alternativa.

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