Contos e Crónicas

Não gosto de contos (ou não gostava, assim pensava eu)!
Não que tivesse lido muitos livros de contos na vida, mas os que li, nunca me haviam entusiasmado durante a leitura. Após a leitura, quando interiorizo a história e começam as saudades dos personagens, aí começo a gostar do que li, mas quando me deparo (ou deparava) com um novo livro de contos, a inércia apodera-se e não inicio (ou não iniciava) a leitura.
Somerset Maugham (Chuva e Outras Novelas), José Rodrigues Miguéis (Gente de Terceira Classe) ou Axel Munthe (Homens e Bichos) não me despertaram o interesse para procurar ler contos e no entanto, digo maravilhas de qualquer uma destas obras... mas continuava a dizer que não gostava de contos...
Um autor abriu-me o caminho de volta aos contos e outro confirmou-o. O primeiro chama-se Joseph Mitchell e é norte-americano. O segundo chama-se William Trevor e é irlandês.




Mitchell (já falei dele a respeito do inolvidável O Segredo de Joe Gould). Exímio escritor de crónicas e jornalista da revista The New Yorker, Mitchell captou como ninguém a vida da grande cidade na rubrica Perfis, que tinha na revista, e que deliciou gerações de leitores ao longo de décadas de crónicas publicadas.

Gostava de escrever sobre as pessoas sem interesse, e foi essa curiosidade que o levou até Joe Gould, vagabundo de Greenwich Village durante dos anos 30 aos 60. Encontram-se também publicados em Portugal Sou Todo Ouvidos, um apanhado das suas primeiras incursões pela escrita e O Fundo da Baía, uma colectânea de 6 ou 7 crónicas com a escrita mais pura que eu li. A escolha da palavra, a observação da insignificância e o amor à realidade estão próximos da perfeição... constituem uma fotografia desapaixonadamente apaixonada do espaço e do tempo em que Mitchell viveu.

William Trevor conheci-o (literariamente) esta semana. O livro Depois da Chuva está publicado pela Relógio d'Água. Li 4 contos até agora, e a melancolia com que são relatadas situações de um quotidiano mais próximo e comum do que aparenta quando o vejo retratado na literatura, é notável. Bem escrito, não tanto ao nível do desenvolvimento das ideias mas à qualidade das mesmas e à construção do texto.




Trevor possui boas ideias, que desenvolve q.b. de modo a que a originalidade da mesma não provoque fadiga em quem lê. Conta para isso também com uma qualidade literária superior.

Irei reler os livros de contos que li em tempos, com a certeza de que a predisposição com que os irei abordar me fará apreciá-los com a justiça que merecem.

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