Before it's too late


Sidney Poitier foi, provavelmente, o actor mais importante da década de 60.

O que ele representou na luta pelos direitos humanos nos EUA foi inegável, sobretudo pela forma como atingiu o sucesso: a sua simpatia e correcção desarmam qualquer resquício de preconceito.

Como Luther King ou Ghandi, Sidney Poitier foi um activista. Mas em vez de andar pelas ruas gritando palavras de ordem ou liderando uma legião de seguidores, fê-lo através da arte, mais concretamente do cinema. E fê-lo magistralmente.

O sucesso na sua carreira não durou muito. Mas para um negro em plenos anos 60, 13 anos é um feito admirável.

A condescêndencia com que reconhecemos sucesso a um membro de uma minoria é por si só uma forma de preconceito. Sidney Poitier teve que ser muito melhor do que os melhores da sua época para lhe ser reconhecido, quanto muito, igual mérito pelos feitos alcançados. Mas os feitos de Sidney tiveram um mérito muito maior, uma vez que foram obtidos num ambiente social extremamente hostil: em 1955, Rosa Parks recusou sentar-se na parte de trás do autocarro em que seguia, para dar lugar a um passageiro branco. O caso teve grande impacto na luta pelos direitos humanos nos anos que se seguiriam. Foi neste ambiente que teve início a carreira de Sidney Poitier: nesse mesmo ano participou em Sementes de Violência (Blackboard Jungle), onde desempenhava o papel de um aluno numa escola problemática.

3 anos depois, Os Audaciosos (The Defiant Ones) trouxe-lhe a primeira nomeação para o óscar.

Mas foi apenas em 1963 que se fez História quando Sidney Poitier se tornou no primeiro artista negro a vencer um óscar numa categoria de interpretação principal pela participação em Lírios do Campo (Lilies of the Field). O feitiço havia sido quebrado e, nos anos que se seguiram, o exemplo que Sidney deu no cinema através dos personagens que incorporou dificilmente são dissociados daquilo que ele, enquanto pessoa, e enquanto homem, representou. Uma Réstea de Azul (A Patch of Blue), onde Elizabeth Hartman, uma cega oriunda de uma família destruída se apaixona por um negro sem o saber, Adivinha Quem Vem Jantar (Guess Who's Coming to Dinner), No Calor da Noite (In the Heat of the Night) e To Sir With Love (O Ódio que Gerou o Amor) completam o conjunto de maior sucesso dos seus filmes (no último, o papel de aluno foi trocado pelo de professor, numa simbólica troca de papéis que marcaram a evolução de mentalidade de 1955 a 1967). Este filme foi o pretexto para o segundo post deste blog.

A sua carreira não foi uma caminhada de um homem só. Vários artistas acompanharam Sidney neste percurso: Stanley Kramer ou Rod Steiger para citar apenas 2 exemplos (O último pertenceu ao grupo que ameaçou não marcar presença na cerimónia dos óscares de 68 se esta não fosse adiada devido ao assassinato de Martin Luther King. A cerimónia foi mesmo adiada e e Steiger venceu o óscar pela sua participação em No Calor da Noite (In The Heat of the Night)).

Por tudo isto, e por Sidney Poitier ter já 84 anos, agradeço a pessoa que foi, é e será, os filmes que deixa, e o símbolo em que se tornou, com invejável naturalidade.

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