Estoril Film Festival (2011 versus 2010)

A edição de 2011 do Estoril Film Festival está para breve.
Somente no ano passado aderi a este festival e não me arrependi: embora tenha apanhado algumas desilusões (o filme vencedor era mau) houve surpresas bastante agradáveis, e não apenas no que respeita aos filmes passados: a Masterclass com John Malkovich e Stephen Frears foi muito interessante.
Quanto a cinema, Poesia (Shi) foi o meu preferido. Fora de competição, foi um filme marcante pela beleza com que apresenta vários aspectos da vida interligados, sonho e realidade, numa vivência que, embora obscura, permite a possibilidade de sonhar e escapar às garras do quotidiano.
Torre Bela é um documento histórico que há muito queria ver. A morte de Thomas Harlan pouco antes do festival fez com que Paulo Branco passasse esta homenagem ao cineasta alemão que filmou como ninguém um dos episódios mais conturbados do Verão Quente de 75 em Portugal. Muito me ri perante o absurdo que as idiossincrasias da revolução provocaram, numa Utopia que se afigurava cada vez mais explícita.
Autobiografia de Niculae Ceausescu, um documentário de 3 horas sem narração (também Torre Bela não tinha narrador) conta o “reinado” do ditador romeno apenas através de imagens de arquivo, desde a morte do seu antecessor até à sua própria morte: um verdadeiro documento da história do século XX.
Dad (Oka), um filme esloveno mais intimista, foi uma agradável surpresa. Talvez o filme menos comercial que vi no festival, e feito com pouquíssimos recursos, o filme é uma ternura, o retrato da relação entre pai e filho num ambiente de crise laboral. O corte que se dá a meio do filme é fantástico, bem como a sinceridade com que são expostos os sentimentos.
Mel (Bal) é um filme turco, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, 2010. A ausência de um pai, apicultor, que arrisca a vida para apanhar mel com que sustenta a família e a expectativa que a espera pelo seu regresso vai causando na sua família, sobretudo no filho, são o fio condutor desta bela história.

É por filmes como estes que vale a pena haver cinema: a arte de contar uma história nem sempre carece de muitas palavras. Tirando Poesia, todos os outros filmes são parcos em palavras, mas visualmente muito fortes, seja pela sequência das imagens, grandes planos, fotografia, … por contraste, em Poesia, as palavras são o essencial. Não que o filme descure a imagem (tem paisagens belíssimas), mas é na força das palavras que nos permitem sonhar que está a força desta história. É assim o cinema.

Comentários

Ofélia Queirós disse…
Poesia nao é lindo? E o final? Que liçaozona de coragem e valores
António V. Dias disse…
É muito bom: mostra como não há idade para lutar pelos sonhos. 5 estrelas :)