É preciso ter lata

Roche: 500 dias de atraso em 23 hospitais e mais de 135.000.000 € de dívida (aos quais acrescem 6.000.000 € de juros de mora) do Ministério da Saúde

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=530708&tm=2&layout=121&visual=49


Albino Dias de Andrade: 18 meses de atraso e 260.000 € de dívida só do Hospital Garcia de Horta

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=532819&tm=2&layout=121&visual=49


Ambas as empresas resolveram cortar o fornecimento a crédito dos seus produtos aos hospitais com dívidas acumuladas de mais de ano e meio!
Reacção do Ministério da Saúde no caso da Roche: É uma atitude irresponsável uma vez que a Roche já ganhou muito dinheiro à custa do Estado.

Estive em dúvida se deveria escrever algo perante tal alarvidade.
Num período em que o que se pretende do estado é honestidade e transparência, vir dizer que uma empresa que aceita continuar a fornecer um caloteiro durante ano e meio é uma irresponsável, é tristemente cómico, para não dizer pior.
Ainda por cima um Ministério comandado por um Ministro que eu tinha em elevada conta (e continuo a ter – quero acreditar que a reacção do Ministério não passou de uma infelicidade). E a Roche não se recusou a fornecer… apenas aceita fornecer a pronto pagamento, que é o que qualquer empresa sensata faria perante um devedor crónico e sem vergonha.

O estado habitou-se (na Saúde mas não só) a que um certo número de fornecedores dependessem dele e, ao não pagar ou ao atrasar pagamentos, tinha como garantido que não lhe cortariam o fornecimento uma vez que 70%, 80% ou 90% da facturação dessas empresas dependiam do Estado.
Acontece que a Roche não depende do Estado português (a delegação portuguesa da empresa sim, mas a Roche internacional, não, e esta decisão foi tomada pela direcção internacional da empresa, obviamente), e é essa posição do “quero, posso e mando” habitual que o Estado não tem neste caso. A reacção desesperadamente ridícula comprova-o.
A chantagem rasteira dos “doentes serem privados dos medicamentos ou do material para cirurgia” pela empresa X, para além de populista é mentirosa: quem priva os doentes de medicamentos e material é o Estado, que não os paga.
E isto é tão transparente que é preciso não ter vergonha nenhuma na cara para, mesmo assim, se tentar subverter a verdade dos factos.

Comentários

Ofélia Queirós disse…
Não podia estar mais de acordo contigo António.
É populismo puro!
António V. Dias disse…
É, mas foi tão mal feito que penso que não colou ;)