Voltar a Começar

“Quando somos jovens todos pensamos que as pessoas mais velhas… não se amam. Eu também acreditava nisto. Pensava que as pessoas como as que agora somos nós sentiam carinho, afecto… mas não que se amavam, que sentiriam paixão. E não é verdade: os homens e as mulheres… são capazes de amar até ao último momento da vida. Na realidade, só se envelhece quando não se ama.”

Não me recordo já de como este título veio até mim.
Sabia que havia sido o primeiro filme espanhol a vencer o Óscar para Filme Estrangeiro mas pouco conhecia da história, e no entanto sabia que um dia o veria.
Volver a Empezar (1982) prendeu-me desde a abertura. Não me lembro da última vez que o início de um filme me comoveu, mas com Volver a Empezar dei por mim em lágrimas ao som de Pachelbel (http://www.youtube.com/watch?v=vHTgrxo_TCI&feature=related).
O olhar nostálgico de José Luis Garci sobre o passado compreende uma forma de estar na vida muito latina, muito portuguesa talvez, de um saudosismo que permite acreditar que, mesmo passando ao lado de uma vida, é possível recuperar a felicidade de um passado já distante.

“… mas sempre digo, e é verdade, que gosto mais da primeira parte da minha vida. Sabes porquê? Porque nela estavas tu.”

Antonio Albajara (Antonio Ferrandis, mais conhecido pela série “Verão Azul”), professor universitário em Berkeley e antigo centrocampista do Sporting de Gijon, acaba de receber o prémio Nobel em Estocolmo. No regresso a São Francisco, onde reside, faz escala em Gijon por uns dias, sua terra Natal e na qual passou a sua juventude. Durante esse periodo, ao mesmo tempo que se reencontra com um passado que havia largado várias décadas atrás, faz um sincero mas comovente balanço da sua vida.
Ao som do Canon de Pachelbel e de Begin to Beguine de Cole Porter, Garci filma o regresso às origens de um homem que passou ao lado das coisas mais importantes que a vida lhe poderia ter dado: o antigo amor, o seu clube, as Astúrias maravilhosamente representadas pela beleza dos subúrbios e pela cidade de Gijon, não demasiado bonita porque a honestidade não carece de artificialismos mas de um sentir verdadeiro.

Volver a Empezar é daqueles filmes dos quais, provavelmente, nunca falarei com ninguém. Poderei mencioná-lo, mas dificilmente terei com alguém uma conversa sobre ele. Ninguém vê este filme (está até disponível no Youtube em 2 partes). Por não ser muito conhecido nem ter sido muito bem recebido pelo público nem pela crítica (só após ter recebido o Óscar e ter sido reposto nos cinemas em Espanha é que alcançou o reconhecimento merecido). Ou simplesmente porque muitos bons filmes, por um motivo ou por outro, não são do agrado das massas.
A música, as palavras, os cenários, os olhares… dão corpo a um sentimentalismo que é gratuito apenas na aparência. Porque é no assumir do sentimento que se inicia a construção do carácter, e neste filme, tudo nos transmite (e nos provoca) sentimentos.
Volver a Empezar é um filme que me deixou a pensar, com tristeza e com alegria, no modo como carregamos na vida a emoção com que construímos a imagem que de nós passamos para os que nos rodeiam. O que sentimos, o modo como sentimos, e o modo como transmitimos o que sentimos pintam o quadro em que se vai transformando a nossa vida. E esta, como diz Albajara a Elena, não escolhe idades para a felicidade.

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