Estava escrito nos Astros

Se há uns anos (cerca de 10), a curiosidade e a convivência com pessoas muito “imiscuídas no assunto” me levaram a ler umas coisas sobre Astrologia, tal teve como consequência o reforço da minha convicção de que, quando algo que é, por natureza, não-científico, tenta obter o carimbo de Ciência dá-se mal.
Neste ponto (e apenas neste), as “Ciências” Esotéricas teriam todas as vantagens em demarcar-se da Ciência e não sujeitarem qualquer tipo de verificação da sua veracidade ao método científico, porque, normalmente dão-se mal. E digo normalmente porque, só se dão “bem” em 3 situações:
- Quando adulteram as condições do estudo supostamente científico a que se submetem (sobretudo se estamos a falar de Estatística) ou quando tiram conclusões abusivas ou mesmo erradas;
- Quando a explicação científica para determinado fenómeno vem logo depois das conclusões: e então passa a ser científico e lá se vai o sobrenatural, o inexplicável ou o que quer que lhe queiramos chamar;
- Quando o conhecimento científico está de tal modo longe da questão a analisar que a dúvida permanece, e é precisamente nesse desconhecido que está um dos trunfos destas “ciências” (outro destes trunfos é, por exemplo, o desespero de quem procura respostas imediatas e fáceis para as questões quotidianas – presas fáceis para quem “garante resultados”).

Bem sei que, aos olhos da Sociedade, o nível de credibilidade não seria tão elevado sem o rótulo científico, mas seria muito mais honesto com todos (com os “clientes” e com os próprios membros da indústria), que se assumisse que as conclusões a que chegam não se sujeitam à verificação científica. Sujeitarem-se a algo que não dominam, pode trazer dissabores e, normalmente é o que tem acontecido: quando os resultados científicos corroboram as conclusões de um qualquer guru, lá vem o “Eu bem dizia: lá vem a Ciência comprovar o que eu sempre soube…”; quando a conclusão científica é contrária, é a Ciência como um todo que é diabolizada.

Vem isto a propósito de um aspecto concreto da Astrologia.
Obviamente que não acredito que as pessoas nascidas sob um determinado signo possuam uma série de características comuns, e muito menos tenham destinos semelhantes numa base anual, semanal ou até diária!
Por acaso (ou não), alguém decidiu agrupar as pessoas por períodos do ano em que nasceram consoante a constelação que estava do lado contrário ao Sol (em relação à Terra), no dia do nascimento. Mas as pessoas podem ser agrupadas de mil e uma maneiras diferentes sem que nada disso tenha a ver com destinos comuns… eu poderia afirmar que as pessoas que nasceram na época da apanha da azeitona vão ter determinado comportamento… fazia um “estudo” onde de certeza que encontraria características comuns e já está… no entanto, quando se fala em Lua, Sol, Planetas e Constelações, já tal não parece tão patético à maioria das pessoas...

Não estudei nem compreendi (ainda, espero eu) o movimento de Precessão dos Equinócios, para poder contra-argumentar com uma base científica (embora as evidências do dia-a-dia sejam por demais evidentes para ser necessária qualquer refutação com base na Ciência), a aplicação dos signos hoje em dia, exactamente como eram aplicados há 2000 anos…
Este movimento é conhecido desde essa altura.
As eras astrológicas (um dos conceitos-chave do movimento Nova Era (New Age)) baseiam-se neste fenómeno.
Os signos, hoje, já “rodaram cerca de 30º para trás”, ou seja, 1/12 do círculo celeste, isto é, “quase” um signo para trás. No entanto continuamos a ver nos horóscopos, os nativos de Touro como tendo nascido entre Abril e Maio, quando na realidade quase todos estes são, nos dias de hoje, do signo Carneiro!
Assim, não compreendo como é que para uns casos se utiliza a Precessão na Astrologia e noutros ela é ignorada.

Acreditamos porque queremos, sentimos ou temos necessidade de acreditar. Penso que esta seria a justificação mais simples e que não careceria de provas tão rebuscadas quanto a charlatanice por trás de alguns destes agentes.

PS: Se a previsão do futuro fosse verdade, seria possível prever tanto as generalidades que vemos nos horóscopos, pêndulos, cartas, etc… como em aspectos específicos da nossa vida. Mas se nos prevêem algo concreto, é mais provável que consigamos mudá-lo, e lá se vai a previsão. Ou então, se as previsões são tão verdadeiras e precisas, porque não prevêem a próxima chave do Euromilhões?

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