Caderneta de Cromos da TV



Tenho saudades das noites de Verão às 2ª-feira serem reservadas para os Jogos sem Fronteiras.
Tenho saudades de, no dia dos meus anos todos pararmos para ver a actuação de Portugal no Festival Eurovisão da Canção.
Tenho saudades de ver o Sport Billy, os Thundercats, The Masters of the Universe, o Bel e o Sebastião… mais tarde o Dartacão, Tom Sawyer, David, o Gnomo.
Tenho saudades dos 3 Duques, Um Anjo na Terra… mais tarde O Justiceiro ou MacGyver.
Tenho saudades do Agora Escolha e “gramar” com o Poirot, os Soldados da Fortuna (antes de se chamar "Esquadrão Classe A") ou Uma Casa na Pradaria.
Tenho saudades do Carlos Fino em Moscovo ou do Vasco Lourinho em Madrid.
Tenho saudades do Brinca Brincando, do Clube Amigos Disney e do Lecas.

E contudo, porque os tempos mudaram, os gostos mudaram e/ou eu mudei, quase nenhuma dessas reposições (das que existiram), me cativaram.
Não consigo ver O Justiceiro, o Poirot ou o Festival da Canção. Muito menos os Jogos sem Fronteiras
O que fazia sentido na altura (também porque não havia alternativas) não faz hoje. Todos víamos o mesmo e todos comentávamos o mesmo no colégio e mais tarde na escola.
Hoje todos sacamos coisas diferentes e/ou vemos programas diferentes na TV ou na net. Pouco em comum há para comentar a não ser o jogo da bola, uma notícia mais ou menos acesa sobre política ou um filme no cinema.
E embora recorde esses tempos com a felicidade que existia mesmo na vivência desse programas (alguns paupérrimos), gosto mais da diversidade de hoje, de ter a liberdade de ver o que quero à hora que quero, de adaptar as minhas experiências aos meus gostos, de poder ver um filme sem os eternos intervalos gravados, que me davam cabo dos tempos de gravação nas saudosas VHS, a fita bem danificada por interferências de nostalgia, comparáveis ao grrrrr que faz a agulha ao pousar no vinil dos saudosos dos gira-discos.

A gestão do tempo televisivo mudou, não só porque os gostos e os estilos de vida mudaram em si mesmos, mas porque a internet (e as tecnologias em geral, como o DVD, os telemóveis, …) também empurrou para essa mudança.
Se tenho saudades dessas experiências, não é porque gosto mais delas do que as que tenho nos dias de hoje. É porque marcam uma clivagem enorme que aconteceu nos últimos 25 anos no que respeita aos hábitos televisivos, a a minha geração terá sido a última que se poderá lembrar do “tempo em que todos viam o mesmo”. Durante 40 anos foi assim (a mudança do preto-e-branco para a TV a cores, na passagem para a década de 80 terá sido a grande alteração desses anos). Depois, tudo mudou.
Dou por mim semanas sem ligar a TV! Liguei-a ontem durante 15 minutos pela primeira vez nos últimos 15 dias! Vejo “TV na net” e “estou na net”, ou não estou a fazer uso das tecnologias de todo (a guitarra ou um livro podem ser consideradas tecnologias…), mas que não só porque mudámos, mas também porque mudámos, esta mudança de hábitos é enorme.
E é boa.

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