O Exótico Hotel Marigold

“No fim, tudo vai dar certo. Se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim.”

Esta frase (atribuída a diversos autore(a)s), atravessa a história e as vidas dos personagens de um filme que esta tarde me surpreendeu.
O Exótico Hotel Marigold (The Best Exotic Marigold Hotel, 2012), toca em tantos aspectos da vida que a leveza do tom com que a história é contada não diminui a seriedade com que são tratadas as dúvidas, receios e balanços de quem vê o fim aproximar-se.
O filme, light british, encontra o estilo adequado para, sendo um drama, encontrar no divertimento a força da mensagem e o fio condutor da história.

Ao chegar à terceira fase da vida, 7 ingleses têm em comum a situação mais ou menos complicada em que a vida os colocou. Seja a saúde, o dinheiro, o abandono ou “simplesmente” a desilusão com a vida, todas estas vicissitudes os conduziram a procurar algum conforto e descanso no “Exótico Hotel Marigold”, na Índia,
O filme é um enorme cliché: chegados ao “hotel”, ele não é nada do que parece e o que se afigurava como o início de um novo inferno nas suas vidas levá-los-á a descobrir uma série de aspectos acerca da vida e de si mesmos, provando que não há idade para aprender, nem tempo em que os erros não possam ser corrigidos.
Mas é um cliché que resulta: de algum modo, todos os 7 personagens têm em comum (por motivos mais ou menos semelhantes) a sensação de que a vida que viveram foi um desperdício. Não em tudo, mas todos sentem, naquilo a que cada um mais dá importância na vida, um vazio enorme, uma sensação da falhanço, fosse por falta de coragem para inverter a situação, por azar, por ingenuidade ou até por demasiada lisura!
O sonhador gerente do Hotel Marigold funciona nesta história como o contraponto de todas estas vidas desiludidas. Juntos, para além de aprenderem a aceitar a vida como um privilégio e não como um direito (numa das frases com mais significado do filme), revêem as prioridades para preencher da melhor forma o futuro que têm pela frente e fazem as pazes com o passado que, embora não tenha correspondido à vida que idealizaram, foram eles que o construíram.

O elenco contém alguns dos mais seguros intérpretes britânicos da actualidade (Judi Dench, Tom Wilkinson ou Maggie Smith), o que só enriquece a história e confere um realismo muito mais vivo às personagens. Com actores menores, metade da força do argumento não passaria do papel.

Um Ano Mais (Another Year, 2010) ou Assim é o Amor (Beginners, 2011), são 2 filmes fantásticos cuja história também aborda a tristeza na fase sénior da vida, o balanço de um passado perdido, o desespero de se ter vivido sem ter sabido viver e a coragem necessária para manter (ou mudar para) uma atitude não só mais positiva, mas também mais honesta perante a vida.
O Exótico Hotel Marigold, difere dos anteriores na medida em que a comédia não deixa que a tristeza seja um fim em si mesmo na história.
Se no primeiro são “os velhos que dão o exemplo aos velhos”, e no segundo “o velho dá o exemplo aos novos”, em O Exótico Hotel Marigold são “os novos que dão o exemplo aos velhos”.
É (foi), para mim, bem mais do que um “filme de sábado à tarde”.

Comentários

Marcia Vieira disse…
Simplesmente apaixonante e envolvente... Excelentes experiências, vivenciadas e transmitidas...
António V. Dias disse…
É mesmo: nunca revi o filme mas lembro-me de que saí do cinema, apesar da tristeza da história, com um sorriso. Talvez por mostrar que nunca devemos perder a esperança para recomeçar algo.
Obrigado pelo comentário.