Wir Kinder vom Bahnhof Zoo

Li este livro já tarde.
Lembro-me de que foi no ano de estágio, quando dei aulas. Devia ter por isso 23 ou 24 anos. Contudo, depois de o ler, lembro-me de ter comentado com uma colega de que não considerava o livro para adolescentes, e ainda hoje penso dessa forma.
Para além das múltiplas leituras que esta história/documento pode ter, Os Filhos da Droga (Wir Kinder vom Bahnhof Zoo) partiu de uma “simples” entrevista que dois jornalistas, Kai Hermann e Horst Rieck, faziam para uma reportagem junto a um tribunal em Berlim, em 1978. Queriam discutir o problema das drogas entre os adolescentes.
Aí depararam-se com Christiane Felscherinow (conhecida por Christiane F.), uma jovem que entrou no mundo da droga aos 13 anos e aos 14 se começou a prostituir para arranjar dinheiro para alimentar o vício.
Quando Christiane F. lhes começou a relatar a sua história, páginas e páginas de informação foram sendo coligidas e os dois repórteres perceberam, quer pelo poder da história quer pela quantidade de informação, que tinham material para muito mais do que um artigo de investigação.

No ano seguinte saiu o livro, creditado a Christiane F..

A história impressionou-me por muitos motivos e, ao juntá-los, o que sobressai é uma sociedade tremendamente decadente. Berlim dos anos 70 devia ser uma tristeza. Sendo um ícone do movimento Underground (David Bowie era o “maior”), Os Filhos da Droga é um documento que retrata uma parte de uma sociedade, que retrata uma época, e que retrata onde pode levar a marginalização.

O divórcio dos pais deixou Christiane com a mãe, a qual, pelos seus depoimentos, passava a vida com dúvidas sobre se estava a fazer ou não o que era correcto com a filha. Com tantos "zigue-zagues morais", criou uma jovem sem grandes referências (e como isso é importante nos jovens) pela permissividade com que pautava a educação que (não) lhe dava. Do que me recordo, quando Christiane foi ter com o pai, lembra-se de nesse período se ter sentido acompanhada.

A entrada no mundo da droga deu-se “naturalmente”: as romarias à discoteca da moda, o “Sound” e as companhias submundanas que por aí parasitavam constituíram os ingredientes que faltavam para que uma jovem desenraizada sucumbisse perante aquele mundo.
Daí seguiu para a heroína, a prostituição junto à Estação do Zoo, o namoro com Detlef, o “namorado” que viria a tornar-se no seu chulo, a amiga Babsi, que morreu muito jovem com uma overdose, o centro de reabilitação que não era mais do que um testa-de-ferro para a lavagem cerebral da propaganda da Igreja da Cientologia, e toda uma comunidade desorientada com um problema que a ultrapassava a 100 à hora. Basta ler os depoimentos presentes entre cada capítulo, do padre da paróquia ao responsável político local, etc…

Uma história que tem tanto de drama como de documental.
Dizer que adorei o livro pode parecer macabro, mas é uma história tão impressionante que me marcou pela intensidade e crueza a que aqueles jovens levaram as suas vidas.

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