A Pianista



Michael Haneke já me havia surpreendido há uns 2 anos, quando vi O Laço Branco (Das Weisse Band, 2009), Palma de Ouro em Cannes e Globo de Ouro para Filme Estrangeiro.
Vi ontem outro filme de Haneke, A Pianista (La Pianiste, 2001), um filme baseado no romance de Elfriede Jelinek, que viria a ganhar o Nobel da Literatura 3 anos mais tarde.
O filme é “simplesmente brutal”.
Não sei ainda se, com 2 filmes apenas, me posso colar ao grupo de fãs de Michael Haneke, mas fiquei curioso para visitar a sua filmografia (a começar com Amour, Palma de Ouro em Cannes este ano).

A Pianista conta a história de uma professora de piano do Conservatório de Viena, Erika, que vive num estado de repressão e alienação total, em parte devido à relação doentia que mantém com a mãe (o pai está internado no sanatório de Steinhof). A perturbação de Erika manifesta-se no extremo controlo sobre tudo o que faz e numa visão completamente disfuncional da própria sexualidade, em que a automutilação e o fetichismo constituem um aspecto tão escondido quanto obsessivo.
Ao conhecer o jovem Walter Klemmer, um jovem aspirante a músico para quem Erika é a materialização dos seus sonhos, esta inicia um jogo relacional onde transfere as suas frustrações, medos e desequilíbrios para a relação que pretende iniciar com Walter, onde o controlo que começa por exercer sobre o jovem vai sendo substituído pela subserviência, ao mesmo tempo que a resposta deste se torna cada vez mais violenta e menos racional aos perigosos jogos da mente de Erika.

O filme é “um murro no estômago”.
Há muito tempo que não terminava um filme completamente sem palavras… já com O Laço Branco tive uma reacção similar, embora por motivos diferentes. Estes 2 filmes de Haneke deixam-me a pensar. Para além disso, Haneke é um perfeccionista: cada um destes filmes é tecnicamente muito bom, o modo como o enredo envolve o espectador é soberbo e o final, tanto num filme como noutro, deixaram-me em suspenso.
As interpretações de Isabelle Huppert, no papel da pianista frustrada, de Annie Girardot, como a mãe dominadora e de Benoit Magimel, o jovem Walter são geniais e estão à altura da tensão que um argumento poderoso e a realização seguríssima imprimem a este thriller psicológico que me surpreendeu e muito.

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