Enquanto esperava pela hora do jantar lembrei-me de que seria provável ouvir um “concerto” de piano gratuito.
Entrei no centro comercial e "ouvi de imediato que era dia de sorte" :) … a alternativa também não era má: se não houvesse música ao vivo, sentar-me-ia no mesmo banco onde me fui sentar a ouvir o piano, pegaria no livro que finalmente me havia começado a interessar e leria até serem horas.
As músicas foram fluindo, umas a seguir às outras… se passavam crianças eram músicas infantis, se ficava eu sozinho no banco a ouvir a pianista, o género partia para um estilo algures entre o pop com arranjos clássicos e o clássico puro. Quando ela parou para falar com uma sua conhecida de aspecto excêntrico que havia chegado, percebi, pela conversa, que era estrangeira.
Tirei o livro e tentei abstrair-me da conversa e do movimento à minha volta. Ri-me como não me ria há algum tempo com um livro. Coração de Cão, de Mikhail Bulgakov é uma obra excepcional: humor, absurdo, sátira política, cativante… algo entre 1984 de Orwell e Frnakesntein de Shelley, como alguém escreveu… só que com um humor que me faziam lágrimas nos olhos. Nessas pausas (para rir), levantava os olhos para observar a pianista, que continuava na conversa.
Chegado ao fim do capítulo, pousei o livro, à espera que a sonata retomasse… e retomou mesmo.
Cerca de 15 minutos depois, estava na minha hora. Esperei que terminasse a música e, quando me levantei fui agradecer o concerto antes de me ir embora.
Que privilégio: no meio de um centro comercial do centro da cidade em hora de ponta de uma 6ª ao início da noite, poder fazer uma pausa e, ao mesmo tempo que observava os sorrisos que a alegre rotina que a entrada no fim-de-semana colocava nas faces das pessoas que por ali passavam, pude abstrair-me por uns momentos com a música, com a leitura e com a música novamente, sem pressas, apenas sentir aquele momento, capitalizar um gap que, de outra forma seria preenchido a ver montras ou livros que não compraria numa qualquer loja das redondezas.
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